COVID-19 na Região de Campinas

Informativo Covid-19 Campinas V2|N09|Semana 09 (28/02 a 06/03)

Equipe:

Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4]

Até o dia 06/03, o Brasil notificou 10,9 milhões de casos e 264,3 mil mortes pela Covid-19, com uma taxa absoluta média de 60,2 mil novos casos e 1,44 mil novas mortes por dia [1].

Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 28/02 e encerrada em 06/03 – semana epidemiológica de número 09, no calendário das autoridades de saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.

Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana)

A Tabela 1 apresenta as estatísticas semanais de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do estado de São Paulo.  

O DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos, atrás, apenas, da Grande São Paulo. Até 06/03, foram notificados 227,2 mil casos e 5,5 mil mortes no DRS-Campinas – letalidade de 2,45%. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC[2]), foram 163,4 mil casos e 4,1 mil óbitos até o momento – letalidade de 2,57%. Por fim, o município de Campinas registrou 59,9 mil casos até o momento, com 1,9 mil óbitos – letalidade de 3,24% — ver https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/.

Em linhas gerais, apenas 4 dos 17 Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas decrescentes de novos casos, evidenciando o aumento generalizado e significativo dos casos no estado de São Paulo. Em relação à semana anterior, quando o ritmo de avanço da pandemia estava alta no DRS-Campinas, os casos e mortes tiveram nova alta nesta semana, como mostram a Tabela 1 e a Figura 1


Figura 1. Curva Epidemiológica Região de Campinas

Foram registrados, nesta semana, 7,3 mil casos no DRS-Campinas (variação de +4,6% em relação aos casos registrados na semana anterior). Destes, 4,7 mil foram registrados na RMC (var. +0,9%) e 1,7 mil em Campinas (var. +6,2%). Foram 173 mortes no DRS-Campinas (var. +22,7% em relação às mortes registradas na semana anterior). Dessas mortes, 146 ocorreram na RMC (var. +12,3%) e 75 em Campinas (var. +25,00%).

As Figuras 2 e 3 mostram os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes por municípios.

Figura 2. Mapa de Casos da Covid-19 nos Municípios do DRS-Campinas e Engenheiro Coelho

Figura 3.  Mapa da Mortalidade pela Covid-19 no DRS-Campinas e Engenheiro Coelho

Além disso, Campinas e Jundiaí continuam entre os municípios com maior índice de mortes do DRS-Campinas, com 165 e 158 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios com maiores taxas de mortalidade, no estado de São Paulo, com corte em 127 mortes por 100 mil habitantes.

Análise dos especialistas

De acordo com o 23º balanço do Governo do Estado, publicado no dia 03/03/2021, todos os departamentos regionais de saúde entraram na fase vermelha do Plano São Paulo, no dia 06/03. Com isso, o comércio, shoppings centers e serviços não essenciais não podem funcionar em todo o estado. Bares e restaurantes funcionam apenas para entregas. 

Da perspectiva da saúde, a epidemia segue em seu momento mais crítico no país. Diversos estados passaram a adotar, nesta semana, medidas mais restritivas para tentar conter o avanço explosivo dos casos e internações. O município de Campinas já havia anunciado no dia 02/03 a regressão do município para a fase vermelha em resposta ao iminente colapso do sistema de saúde da cidade. A ocorrência de protestos¹ contrários a essas medidas mais restritivas deixa claro que boa parte da população ainda não entendeu a gravidade da situação. Certamente a postura negacionista e omissa do governo federal frente à pandemia contribui bastante para essa dificuldade na implantação dessas medidas.

Boletim extraordinário da Fiocruz, publicado em 02/03/2021, aponta que “pela primeira vez, desde o início da pandemia, verifica-se em todo o país o agravamento simultâneo de diversos indicadores, como o crescimento do número de casos, de óbitos, a manutenção de níveis altos de incidência de SRAG, alta positividade de testes e a sobrecarga de hospitais.[1] Outro dado bastante preocupante divulgado pela Rede Genômica Fiocruz indica que a prevalência da variante P.1 entre as cepas sequenciadas vem aumentando em todo o país e foi a cepa mais identificada nos dados do mês de fevereiro – representando 44% das identificações. Na região sudeste, foi a cepa predominante, com 47% das identificações. No estado de São Paulo, as últimas informações apontavam que 73% das cepas sequenciadas eram a variante P.1³. Esses fatos ajudam a explicar, em parte, a situação atual.

Campinas, assim como a região, segue com o sistema de saúde bastante pressionado e à beira do colapso. Os leitos de UTI COVID do SUS municipal seguem quase totalmente ocupados já há quase duas semanas. Isso considerando que há 3 leitos exclusivos para gestantes e que houve incremento de mais de 10 leitos no período. No município como um todo, incluído leitos no HC-UNICAMP e leitos da rede privada, a ocupação ficou acima de 90% durante toda a semana, mesmo com aumento de 26 leitos nos últimos 7 dias.

No DRS-Campinas, houve aumento de 17% nas internações em leitos intensivos, a terceira semana seguida com números em ascensão, representando um aumento de 60% no número de internações. Algo que, sem dúvida, sobrecarrega o sistema de saúde. Se medidas mais restritivas já tivessem sido adotadas há 2 semanas, é possível que estivéssemos já observando alguma melhora nos indicadores e não estaríamos, talvez, em uma situação tão crítica.

Do ponto de vista econômico e social, reforçamos que, embora os movimentos de recuo na liberalização das atividades econômicas possam causar perdas imediatas aos comerciantes e prestadores de serviços, a queda da atividade econômica já encontra origens que vão muito além do fechamento temporário dos estabelecimentos.

Na semana passada, foram divulgados os números oficiais do PIB pelo IBGE. O PIB brasileiro teve queda histórica de 4,1% em 2020 em relação a 2019, pior resultado da série iniciada em 1996.  Do lado da oferta, apesar de sinais de recuperação no terceiro e quarto trimestres de 2020, no fechamento anual, a indústria recuou 3,5% e serviços, 4,5%, enquanto a agropecuária avançou 2%, em relação a 2019. Alguns setores apresentaram alta na comparação anual, como, por exemplo, a indústria extrativa (+1,3%), atividades financeiras (+4%) e atividades imobiliárias (+2,5%). Do lado da demanda, na comparação anual, o consumo das famílias recuou 5,5%; o do governo, 4,7%; e os investimentos das empresas, 0,8%, em 2020. A queda no consumo do governo evidencia a opção contracionista, mesmo diante do quadro de contração da demanda privada.

No setor externo, as exportações caíram 1,8% e as importações, 10%. A RMC fechou 2020 com queda de 22,2% nas exportações, 9,9% nas importações e 3,8% no saldo da balança comercial. Para uma região industrial, com alta dependência da importação de insumos, esses números indicam queda da atividade produtiva voltada para vendas externa e interna, em relação a 2019.

No dia de hoje (08/03/21), o Ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou que o novo auxílio emergencial, que será viabilizado via PEC emergencial, terá valor médio de R$ 250,00 por família. O projeto ainda precisa ser aprovado na Câmara dos Deputados. A demora na liberação e os valores reduzidos em relação aos valores pagos no ano passado preocupam, diante da gravidade do quadro sanitário e socioeconômico do país.

Ao mesmo tempo, tem se formado o consenso entre os analistas de mercado e os acadêmicos de que a vacina é a única solução definitiva para o fim das restrições impostas às atividades econômicas. Embora haja capacidade de produção local, a necessidade de importação de insumos farmacêuticos tem atrasado a produção de vacinas no Brasil. Neste momento, aproximadamente 4,79% da população da RMC recebeu a primeira dose da vacina, de acordo com dados da Secretaria de Saúde de SP.

Os últimos dados da PNAD-Contínua, para os meses de setembro a novembro de 2020, estimavam uma taxa de desemprego de 14,1%, patamar que era de 10,5% na primeira semana de maio/2020.  Além disso, as reduções de carga horária e salários, bem como o desalento (quando as pessoas desistem de procurar emprego), camuflam a alta subutilização do trabalho na economia brasileira – 15,3 milhões de pessoas não procuram emprego devido à pandemia ou à falta de trabalho em suas regiões.

Como complicador, preocupa o comportamento de alguns índices de inflação, resultantes dos gargalos de oferta em alguns setores importantes de insumos. A indústria brasileira depende consideravelmente de insumos importados, e com o dólar alto e a dificuldade de ajuste rápido na oferta de alguns insumos, diante dos primeiros passos da retomada da demanda internacional, os preços para os produtores internos têm subido, já causando alguns reflexos para o consumidor final. O IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), calculado pela FGV, atingiu 25,71% em 12 meses, em janeiro/2021.  Esse índice captura, também, aumentos nos custos de insumos que podem ser repassados para o consumidor final em algum momento, sobretudo diante do reaquecimento da demanda interna e da persistência dos choques de oferta.

Seguimos afirmando que, sem medidas de proteção da renda e do emprego e diante do cenário econômico, social e sanitário atual, a retomada da atividade econômica nacional e regional vai ser lenta.

ANEXOS

ANEXO – 1 Covid-19 nos DRS-São Paulo.


[1] Professor Extensionista e Economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br

[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/Hospital e Maternidade Celso Pierro

[3] Graduando em Geografia e Extensionista da PUC-Campinas (mapas)

[4] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)

[5] Dados do Ministério da Saúde, acessados em 01/03/2021)

[6] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.

[7] Nota Técnica Extraordinária do Observatório Covid-19 Fiocruz – https://portal.fiocruz.br/sites/portal.fiocruz.br/files/documentos/boletim_extraordinario_2021-marco-03.pdf


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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