COVID-19 na Região de Campinas

Informativo Covid-19 Campinas V2|N10|Semana 10 (07/03 a 13/03)

Equipe:

Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4]

Até o dia 13/03, o Brasil notificou 11,4 milhões de casos e 277,1 mil mortes pela Covid-19, com uma taxa absoluta média de 71,5 mil novos casos e 1,8 mil novas mortes por dia [1].

Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 07/03 e encerrada em 13/03 – semana epidemiológica de número 10, no calendário das autoridades de saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.

Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana)

A Tabela 1 apresenta as estatísticas semanais de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do estado de São Paulo.  

O DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos, atrás, apenas, da Grande São Paulo.  Até 13/03, foram notificados 237,6 mil casos e 5,8 mil mortes no DRS Campinas – letalidade de 2,46%. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC[2]), foram 170,4 mil casos e 4,3 mil óbitos até o momento – letalidade de 2,58%. Por fim, o município de Campinas registrou 61,9 mil casos até o momento, com 2,0 mil óbitos – letalidade de 3,24% — ver https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/.

Em linhas gerais, apenas 1 dos 17 Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas decrescentes de novos casos, evidenciando o aumento generalizado e significativo dos casos no estado de São Paulo. Em relação à semana anterior, quando o ritmo de avanço da pandemia estava alto no DRS-Campinas, os casos e mortes tiveram nova alta nesta semana, como mostram a Tabela 1 e a Figura 1.

 

Figura 1. Curva Epidemiológica Região de Campinas

Foram registrados, nesta semana, 10,3 mil casos no DRS-Campinas (variação de +40,7%, em relação aos casos registrados na semana anterior). Destes, 6,9 mil foram registrados na RMC (var. +46,5%) e 2,0 mil em Campinas (var. +18,9%). Foram 285 mortes no DRS-Campinas (var. +61,9%, em relação às mortes registradas na semana anterior). Destas mortes, 196 ocorreram na RMC (var. +34,2%) e 68 em Campinas (var. -9,2%).

As Figuras 2 e 3 mostram os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes por municípios.

Figura 2. Mapa de Casos da Covid-19 nos Municípios do DRS-Campinas e Engenheiro Coelho

Neste momento, os municípios com menor incidência são Vargem e Tuiuti, com 1.260 e 1.677 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. Na outra ponta, Paulínia, Holambra e Jundiaí são os municípios com maior incidência, todos com mais de 6.588 casos por 100 mil habitantes.

Figura 3.  Mapa da Mortalidade pela Covid-19 no DRS-Campinas e Engenheiro Coelho

Além disso, Campinas e Jundiaí continuam entre os municípios com maior índice de mortes do DRS-Campinas, com 171 e 161 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios com maiores taxas de mortalidade, no estado de São Paulo, com corte em 134 mortes por 100 mil habitantes.

Análise dos especialistas

De acordo com o 24º balanço do Governo do Estado, publicado no dia 11/03/2021, todos os departamentos regionais de saúde entraram na fase emergencial do Plano São Paulo, no dia 15/03. Com isso, o comércio, shoppings centers e serviços não essenciais não podem funcionar em todo o estado. Bares e restaurantes funcionam para entregas e drive-thru. Além disso, foi implementado o toque de recolher entre as 20h e as 5h. Hospitais, farmácias e atendimento dos serviços de saúde podem operar.

Da perspectiva da saúde, a epidemia segue em franca ascensão. O DRS-Campinas registrou 1.403 novas internações na última semana (aumento de 23% em relação à semana anterior), novo recorde de internações em uma semana. O anterior era de 1.220, na semana 30/2020, finalizada em 25/07/2020. O Sistema de Saúde segue extremamente sobrecarregado, à beira do colapso. Mesmo com a corrida para a abertura de novos leitos, as taxas de ocupação seguem próximas de 100%, já com filas de pacientes aguardando um leito intensivo.

Em Campinas, as taxas de ocupação ficaram em torno de 95% ao longo da semana, com registros de 100% de ocupação nos serviços públicos em 2 dias. Há previsão de abertura de novos leitos durante a semana.

No dia 10/03, uma semana após a regressão de Campinas à fase vermelha, alguns dias antes do estado, o índice de isolamento[1] apontou em uma direção de melhora, registrando 41%, contra os 37% do dia 03/03. A fase emergencial, que entra em vigor hoje (15/03),  não configura um lockdown, mas é possível que a criação de um novo patamar de restrições ajude a conscientizar a população sobre a criticidade do momento. Permanece a dúvida sobre o motivo pelo qual essa fase já não foi implantada há 2 ou 3 semanas, quando as internações já haviam apresentado aumento significativo. É bem possível que o centro de contingência já tivesse recomendado medidas mais rígidas anteriormente, que devem não ter sido acatadas por questões políticas e econômicas. Seria de muito bom tom que a população pudesse ter acesso às deliberações do centro de contingência, ou ainda a uma nota técnica semanal do grupo de profissionais. Perdemos tempo (e vidas) insistindo em medidas já conhecidas (e pouco respeitadas) pela população. As punições para organizadores e frequentadores de aglomerações devem ser mais duras e exemplares para ajudar a inibir esse tipo de comportamento.

Do ponto de vista econômico e social, reforçamos que, embora os movimentos de recuo na liberalização das atividades econômicas possam causar perdas imediatas aos comerciantes e prestadores de serviços, a queda da demanda agregada da economia deveria preocupar mais nesse momento.

Na semana passada, foram divulgados os números oficiais do PIB pelo IBGE. O PIB brasileiro teve queda histórica de 4,1% em 2020 em relação a 2019, pior resultado da série iniciada em 1996. Do lado da oferta, apesar de sinais de recuperação no terceiro e quarto trimestres de 2020, no fechamento anual, a indústria recuou 3,5% e os serviços 4,5%, enquanto a agropecuária avançou 2%, em relação a 2019. Alguns setores apresentaram alta na comparação anual, como, por exemplo, a indústria extrativa (+1,3%), atividades financeiras (+4%) e atividades imobiliárias (+2,5%). Do lado da demanda, na comparação anual, o consumo das famílias recuou 5,5%, o consumo do governo 4,7% e os investimentos das empresas 0,8%, em 2020. A queda no consumo do governo evidencia a sua opção contracionista, mesmo diante do quadro de contração da demanda agregada.

No setor externo, as exportações caíram 1,8% e as importações 10%. A RMC fechou 2020 com queda de 22,2% das exportações, 9,9% das importações e 3,8% do saldo da balança comercial. Para uma região industrial, com alta dependência da importação de insumos, esses números indicam queda da atividade produtiva voltada para vendas externa e interna, em relação a 2019.

No dia de hoje (15/03/21), foi promulgada a PEC Emergencial (186/2019) que regulamenta o novo auxílio emergencial. A previsão é que as parcelas sejam pagas na primeira semana de abril, com valor médio de R$ 250,00 por família. A demora na liberação e os valores reduzidos em relação aos valores pagos no ano passado preocupam diante da gravidade do quadro sanitário e socioeconômico do país.

Ao mesmo tempo, tem se formado o consenso entre os analistas de mercado e os acadêmicos de que a vacina é a única solução definitiva para o fim das restrições impostas às atividades econômicas. Embora haja capacidade de produção local, a necessidade de importação de insumos farmacêuticos tem atrasado a produção de vacinas no Brasil. Neste momento, aproximadamente 4,79% da população da RMC recebeu a primeira dose da vacina, de acordo com dados da Secretaria de Saúde de SP.

Os últimos dados da PNAD-Contínua, para os meses entre setembro e novembro de 2020, estimava uma taxa de desemprego de 14,1%, patamar que era de 10,5% na primeira semana de maio/2020. Além disso, as reduções de carga horária e salários, bem como o desalento (quando as pessoas desistem de procurar emprego), camuflam a alta subutilização do trabalho na economia brasileira – 15,3 milhões de pessoas não procuram emprego devido à pandemia ou à falta de trabalho em suas regiões.

Como complicador, preocupa o comportamento de alguns índices de inflação, resultantes dos gargalos de oferta em alguns setores importantes de insumos. A indústria brasileira depende consideravelmente de insumos importados, e, com o dólar alto e dificuldade de ajuste rápido na oferta de alguns insumos, diante dos primeiros passos da retomada da demanda internacional, os preços para os produtores internos têm subido, já causando alguns reflexos para o consumidor final. O IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), calculado pela FGV, atingiu 25,71% em 12 meses, em janeiro/2021. Esse índice captura, também, aumentos nos custos de insumos que podem ser repassados para o consumidor final em algum momento, sobretudo diante do reaquecimento da demanda interna e diante da persistência dos choques de oferta.

Seguimos afirmando que, sem medidas de proteção da renda e do emprego e diante do cenário econômico, social e sanitário atual, a retomada da atividade econômica nacional e regional vai ser lenta.

ANEXOS

ANEXO – 1 Covid-19 nos DRS-São Paulo.


[1] Professor Extensionista e Economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br

[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/Hospital e Maternidade Celso Pierro

[3] Graduando em Geografia e Extensionista da PUC-Campinas (mapas)

[4] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)

[5] Dados do Ministério da Saúde, acessados em 01/03/2021)

[6] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.

[7] https://www.seade.gov.br/coronavirus/


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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