COVID-19 na Região de Campinas

Informativo Covid-19 Campinas  – V2|N23|Semana 23 (06/06 a 12/06) 

Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4] Beatriz Panciera [5] Giuliano Polli [6]

Até o dia 12/06, o Brasil notificou 17,3 milhões de casos e 486,2 mil mortes pela Covid-19, com uma taxa absoluta média de 66,7 mil novos casos e 1,9 mil novas mortes por dia 7.

Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 06/06 e encerrada em 12/06 – semana epidemiológica de número 23, no calendário das autoridades de saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.

Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana) 

A Tabela 1 apresenta as estatísticas semanais de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do estado de São Paulo.   

O DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos, atrás, apenas, da Grande São Paulo.  Até 12/06, foram notificados 371,8 mil casos e 10,8 mil mortes, no DRS-Campinas – letalidade de 2,92%. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC8), foram 260,1 mil casos e 7,8 mil óbitos até o momento – letalidade de 3,03%. Por fim, o município de Campinas registrou 87,5 mil casos até o momento, com 3,4 mil óbitos – letalidade de 3,98% — ver https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/.  

Nesta semana, 12 dos 17 Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas decrescentes de novos casos, indicando uma pequena redução no número de novos casos no Estado de São Paulo em relação à semana passada. As novas mortes apresentaram taxas crescentes em 14 dos 17 departamentos do Estado, com média de 42,03% de aumento. Em relação à semana anterior, quando o ritmo de avanço da pandemia estava acelerando no DRS-Campinas, os novos casos apresentaram uma diminuição, mas o número de novos óbitos continua aumentando, assim como na semana passada, como mostram a Tabela 1 e as Figuras 1 e 2.

Figura 1. Curva Epidemiológica Casos Região de Campinas 

Figura 2. Curva Epidemiológica Óbitos Região de Campinas 

Foram registrados, nesta semana, 9,9 mil casos no DRS-Campinas (variação de -12,25%, em relação aos casos registrados na semana anterior). Destes casos, 6,81 mil foram registrados na RMC (var. -2,25%) e 1,7 mil em Campinas (var. 6,9%). Foram 336 mortes no DRS-Campinas (var. 34,4%, em relação as mortes registradas na semana anterior). Destas mortes, 250 ocorreram na RMC (var. 49,7%) e 100 em Campinas (var. 85,19%).

As Figuras 2 e 3 mostram os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes por municípios. 

Figura 3. Mapa de Casos da Covid-19 nos Municípios do DRS-Campinas e Engenheiro Coelho  

Neste momento, os municípios com maior incidência são Paulínia, Holambra e Santo Antônio de Posse, com 12195,7, 11108,8 e 10980,7 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. É válido lembrar que a incidência é fortemente influenciada pela amplitude da testagem em cada município. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios com maiores taxas de incidência, no estado de São Paulo, com corte em 10167 casos por 100 mil habitantes. 

Figura 4.  Mapa da Mortalidade pela Covid-19 no DRS-Campinas e Engenheiro Coelho 

Além disso, Jundiaí, Santa Bárbara d’Oeste e Campinas continuam entre os municípios com maior índice de mortes do DRS-Campinas, com 305,8, 305,7 e 296,1 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios com maiores taxas de mortalidade, no estado de São Paulo, com corte em 287 mortes por 100 mil habitantes.  

Análise dos especialistas 

Dando continuidade ao que foi decretado pelo Governo do Estado no dia 09/04/2021, todos os departamentos regionais de saúde estão em fase de transição, da fase vermelha para a laranja do Plano São Paulo, desde o dia 18/04/2021. O Governo, que chegou a anunciar uma flexibilização nas regras de combate à COVID-19 para o mês de junho, encontra-se pressionado pela recente piora no cenário da saúde. A fase atual do Plano SP havia, até então, sido prorrogada até dia 14/06, devido ao aumento do número de casos de internação no Estado e, nessa última semana, foi anunciada uma nova prorrogação até o dia 30/06. Neste momento, a fase de transição acumula 12.300 mortes na Grande São Paulo desde o seu início em 19 de abril. Essa soma representa 21% do total de mortes registradas na região. O Governo do Estado não deu sinal algum de enrijecimento nas regras de combate à pandemia, apenas prorrogações da situação atual, que não têm sido muito efetivas, como mostram os dados recentes. Os estabelecimentos continuam podendo operar com ocupação máxima de 40% entre as 6h e 21h, com toque de recolher entre as 21h e 5h; permanece a obrigação de teletrabalho para todas as atividades administrativas não essenciais e recomendação de escalonamento na entrada e saída da indústria, serviços e comércio.

Do ponto de vista da saúde, novas internações disparam no DRS-Campinas e ultrapassam as 2 mil internações semanais pela terceira vez em toda a série histórica da epidemia de COVID-199. As outras vezes em que esse patamar foi alcançado foi justamente no pior momento da epidemia até aqui, nas semanas 12 e 13, no mês de março deste ano. Após uma redução drástica nos casos com a adoção de medidas mais restritivas, pelo menos desde a semana 18 já vinha sendo observada uma clara mudança de padrão nos indicadores da epidemia. Entretanto, em nenhum momento houve adoção de medidas mais restritivas por parte do estado ou pelos municípios da região, com raras exceções. Diversos hospitais já estão no limite de capacidade física e de recursos humanos. Foi ultrapassada também a marca de 400 pacientes internados em leitos de UTI COVID em Campinas10, número que não era superado desde o início do mês de abril.  

Apesar de mais um bem-sucedido “dia D” de vacinação contra a COVID-19 em Campinas, neste dia 12/06, o percentual de imunizados com 2 doses em Campinas, que era de 13,8% em 11/6 (de acordo com último boletim divulgado)², segue muito abaixo do que seria o adequado  para se atingir a imunidade coletiva. Sendo assim, sem percentual alto de imunizados, sem a adoção de medidas mais restritivas e população com baixa adesão às medidas de prevenção, o esperado seria ocorrer o que está ocorrendo de fato, elevação expressiva do número de casos em um cenário em que o patamar de novos casos já era alto. 

O Governo Federal segue com a estratégia de recomendar à população justamente o contrário do que deve ser feito, sendo que a última cartada foi o desestímulo à utilização de máscaras. Lamentavelmente, não houve nenhuma ação assertiva e contundente do Ministério da Saúde para “desfazer o estrago”, fazendo com que esse tema, de forma absurda e contraproducente ganhasse espaço, obrigando os veículos de imprensa a praticamente iniciar uma campanha de esclarecimento para trazer a verdade. Com a circulação do vírus descontrolada em todas as regiões e baixas coberturas vacinais, não há qualquer sentido em se discutir flexibilização das medidas de proteção. 

Aguardemos, portanto, qual será a resposta do Governo Estadual e dos governos municipais ante este novo avanço da epidemia. Momentos oportunos para a adoção de medidas mais restritivas não faltaram e os indicadores há semanas apontam uma piora da situação.  

Do ponto de vista econômico e social, a taxa de desemprego alta e crescente (14,7%, 1T/2021), combinada com o recrudescimento dos casos e mortes, preocupa pela provável necessidade da implementação de novas medidas de distanciamento físico. A resistência na queda de novos casos, combinada com um aumento nas novas mortes, pode reverter a relativa positividade dos indicadores econômicos regionais e nacionais do 1T/2021.   

Houve crescimento do PIB brasileiro no 1T/2021, de 1,2%. No entanto, a taxa de desemprego alta reforça a tese de ilusão contábil, causada pela reposição de estoques das empresas. Em outras palavras, as empresas não “investiram” na produção e, sim, na reposição de estoques, causando o crescimento acima do esperado. Sem crescimento na demanda, o crescimento do 1T/2021 não deve se repetir no 2T/2021.  Por outro lado, o IBC-Br divulgado hoje, considerado uma prévia do PIB brasileiro mensal, mostra crescimento de 0,44% em abril, em relação a março/2021.  

É preciso ressaltar que o BEm, apesar de forte impacto negativo na manutenção dos níveis de renda, mostrou-se eficaz na estabilização da taxa de desemprego – em níveis altos, é fato — no ano passado. Para salários mais baixos, próximos ao salário mínimo, o impacto na renda individual é pequeno ou nulo, mas para salários maiores, os impactos negativos nos rendimentos são consideráveis.  Em 2020, na RMC, foram efetuados aproximadamente 500 mil acordos de flexibilização (28% da mão de obra formal regional), sendo 60% dos acordos para suspensão total ou 70% de redução dos salários e da carga horária.  

Em relação ao emprego, os últimos dados da PNAD-Contínua, para os meses entre jan/2020 e mar/2021, estimam uma taxa de desocupação recorde no Brasil de 14,7% (alta de 0.3 pontos percentuais), patamar que era de 10,5% na primeira semana de maio/2020. No entanto, na RMC, de acordo com dados do Observatório PUC-Campinas, a criação de novos postos de trabalho tem desacelerado desde abril – foram 5,3 mil vagas em março/2021, com saldo positivo de 23,7 mil postos no 1T/2021. Também, os dados do setor externo seguem em forte alta com aumentos de 57,2 % nas exportações e 18,2% nas importações do mês de abril de 2021, em relação ao mesmo período do ano passado. O aumento das exportações e importações foi generalizado, porém, proporcionalmente mais marcado para produtos de média-alta e alta complexidade, categorias que concentram a maior parte do volume das transações da RMC. 

Em relação aos preços, O IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), calculado pela FGV, atingiu 32,02% em 12 meses, em abril/2021.  Esse índice captura, também, aumentos nos custos de insumos que podem ser repassados para o consumidor final em algum momento. O IPCA acumulado de 12 meses atingiu 8,06% em maio/21, quando o centro da meta de inflação para o ano de 2021 é de 3,75%.   

Por fim, as expectativas de retomada para boa parte dos analistas estão bastante ancoradas no avanço e eficácia da vacinação. Até o momento, no DRS-Campinas, aproximadamente 28,7% (var. semanal de +3 p.p.) da população recebeu a primeira dose da vacina, enquanto 12,3% (var. semanal de +0,21 p.p.)  recebeu a segunda dose. Seguimos afirmando que, sem medidas realmente efetivas de proteção da renda e do emprego e sem a aceleração na taxa de vacinação, a retomada da atividade econômica nacional e regional pode ser desnecessariamente lenta, apesar dos resultados positivos do primeiro trimestre.  

ANEXOS

Covid-19 nos DRS-São Paulo

[1] Professor Extensionista e Economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br

[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/Hospital e Maternidade Celso Pierro

[3] Graduando em Geografia e Extensionista da PUC-Campinas (mapas)

[4] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)

[5] Graduanda em Administração pela PUC-Campinas e Extensionista da PUC-Campinas (atualização de dados semanais)

[6] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (atualização de dados semanais)

[7] Dados do Ministério da Saúde

[8] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.

[9] – https://www.seade.gov.br/coronavirus/#

[10] – https://covid-19.campinas.sp.gov.br/epidemiologico/diario 


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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