COVID-19 na Região de Campinas

Informativo Covid-19 Campinas V1|N28|Semana 47 (15/11 a 21/11)

Equipe:

Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4]

Até o dia 21/11, o Brasil notificou 6,07 milhões de casos e 169,1 mil mortes pela Covid-19, com uma taxa absoluta média de 29,1 mil novos casos e 475 novas mortes por dia.

Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 15/11 e encerrada em 21/11 – semana epidemiológica de número 47, no calendário das autoridades de Saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.

Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana)

A Tabela 1 apresenta as estatísticas semanais de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do estado de São Paulo.  

Neste momento, o DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos. Também em relação ao número absoluto de casos e óbitos por semana, o DRS-Campinas ficou atrás, apenas, da Grande São Paulo.  Até 21/11, foram notificados 124,4 mil casos e 3,7 mil mortes, na região de Campinas – letalidade de 3,03%. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC[1]), foram 91,6 mil casos e 2,8 mil óbitos até o momento – letalidade de 3,12%. Por fim, o município de Campinas registrou 35,9 mil casos até o momento, com 1.355 óbitos – letalidade de 3,77% — ver https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/ .


Em linhas gerais, 13 dos 17 Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas crescentes de novos casos. É importante ressaltar que as autoridades de Saúde do estado de São Paulo alegam que o aumento expressivo se deu pela testagem de casos mais leves da doença, recomendada desde 02/07, mas ainda em implementação por alguns municípios do estado.

Em relação à semana anterior, quando o ritmo de avanço da pandemia estava em queda no DRS-Campinas, os casos e mortes tiveram quedas, como mostram a Tabela 1 e a Figura 1

A variação do DRS-Campinas em termos de novos casos foi de 3.578 casos (-7,23%); RMC, 2,4 mil casos (-15,92%); e Campinas, 964 casos (+26,17%). Em relação à semana passada, as novas mortes caíram no DRS-Campinas, registrando 47 óbitos (-11,32%); na RMC, 36 (-16,27%); já em Campinas houve um aumento com 13 mortes (44,44%). Como mostram as Figuras 2 e 3, os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes aumentaram consideravelmente em alguns municípios em relação aos níveis verificados nos últimos informativos divulgados pelo Observatório da PUC-Campinas (https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19-na-regiao-de-campinas-v1n08semana-27-28-06-a-04-07/).[1]


Neste momento, os municípios com menor incidência são Vargem e Monte Alegre do Sul, com 820 e 916 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. Na outra ponta, Paulínia, Jundiaí e Santo Antônio de Posse são os municípios com maior incidência, todos com mais de 3.400 casos por 100 mil habitantes. Em relação aos demais municípios paulistas, nove dos 42 municípios do DRS-Campinas e oito dos 20 municípios da RMC estão entre os 25% de maior incidência – corte em 2.845 casos por 100 mil habitantes.  

Além disso, Jundiaí e Campinas continuam entre os municípios com maior índice de mortes do DRS-Campinas, com 104 e 115 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente.

Na RMC, Campinas e Santa Bárbara d’Oeste são, neste momento, os municípios com os mais altos coeficientes de mortalidade – 115 e 107, respectivamente, sempre por 100 mil habitantes. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios com maiores taxas de mortalidade, no estado de São Paulo, com corte em 80 mortes por 100 mil habitantes.

Análise dos especialistas

As últimas semanas foram marcadas pela reversão das iniciativas de flexibilização das medidas de isolamento social, baseadas no anúncio da “quarentena inteligente” do estado de São Paulo.  De acordo com último relatório do Governo do estado, publicado no dia 09/10, os Departamentos Regionais de Saúde de Campinas, Sorocaba, Piracicaba, Grande São Paulo e Taubaté avançaram para a fase verde. Os demais mantiveram-se na fase amarela, com exceção do DRS-Barretos que retrocedeu para fase laranja. É importante ressaltar que as prefeituras podem estabelecer maiores restrições ao funcionamento das atividades econômicas do que as previstas pelo plano de flexibilização do estado.

Da perspectiva da saúde, nesta última semana houve, claramente, aumento do registro de casos tanto no município de Campinas quanto na região. A comparação de dados somente entre semanas epidemiológicas ainda pode levar a falhas de interpretação, visto que na semana 46 havia dados “represados” da semana 45. Ainda assim, no município de Campinas, houve aumento dos registros de casos na semana 47 comparada à semana 46. A avaliação das médias móveis de 7 e 14 dias não deixa dúvidas em relação a esse aumento desde o início do mês de novembro.

Vale lembrar que as curvas que refletem de maneira mais fidedigna a evolução da epidemia são aquelas baseadas em data de início dos sintomas, que são divulgadas periodicamente pela Prefeitura de Campinas, mas que, naturalmente, sempre são um pouco “atrasadas” em relação ao momento presente pelos intervalos necessários para procura do paciente pelo serviço de saúde, coleta do teste diagnóstico, obtenção do resultado do teste e alimentação do sistema de notificação.

Sendo assim, os dados acerca de procura a serviços de pronto atendimento e unidades básicas de saúde por indivíduos com sintomas respiratórios, bem como dados de internações hospitalares por síndrome respiratória aguda grave (SRAG) certamente são os mais precoces para indicar uma mudança de cenário.

No estado de São Paulo, houve aumento de quase 17% nas internações hospitalares na última semana, enquanto nas cidades integrantes do DRS-Campinas esse aumento foi de quase 39%[7]. No município de Campinas, entre os dias 14/11 e 21/11, o número absoluto de pacientes com SRAG internados em UTI saltou de 84 para 97[8], representando um aumento de 15% no período. Vale ressaltar que o aumento mais expressivo ocorreu em hospitais privados, que registraram elevação de 35%.

No último boletim epidemiológico divulgado pela Prefeitura de Campinas[9], foram apresentados os dados do monitoramento diário dos atendimentos de casos suspeitos ou confirmados de infecção pelo vírus SARS-COV-2, realizados pelas unidades de pronto atendimento municipais e centros de saúde, apontando que já há duas semanas vem sendo observado um aumento significativo nesses atendimentos, com elevação de 129% entre as semanas 46 e 44.

Está claro que o conjunto de dados aponta para uma transição de cenário de queda/estabilidade na ocorrência de novos casos para um cenário de aumento de casos. Não é possível prever, entretanto, qual será a magnitude desse aumento, que pode ser limitado ou pode ser o início de um aumento mais expressivo e que demande mais do Sistema de Saúde. Nas próximas semanas, esse cenário ficará mais claro, na medida em que os resultados dos exames dos pacientes suspeitos, que têm sido atendidos e internados nos diversos serviços de saúde, serão disponibilizados, passando os dados a constar nos sistemas de informação. Resta-nos, portanto, máxima cautela e atenção em todas as nossas ações. O cansaço com a longevidade da pandemia e a euforia com os animadores resultados dos estudos com as principais vacinas não podem permitir que as pessoas relaxem com as medidas de prevenção. Mesmo com a aprovação das vacinas pelas agências reguladoras, levará tempo para que cheguem à maioria da população, de modo que a utilização correta das máscaras, distanciamento físico, evitar ambientes com pouca ventilação, higiene de mãos e superfícies certamente ainda são as principais armas para evitar novas infecções e mortes. Do ponto de vista econômico e social, os efeitos da primeira onda ainda estão presentes no contexto econômico e social, e vivemos um momento de alerta em relação a uma segunda onda. O Departamento Regional de Saúde de Campinas está há quase dois meses na fase verde do Plano São Paulo, mas o Governo do Estado congelou progressões diante do aumento de internações em todo o estado. Neste momento, podem funcionar, com menos restrições de capacidade, praticamente todas as atividades econômicas, à exceção de grandes eventos.

A sustentabilidade dos avanços na flexibilização, ao que tudo indica, estava baseada na eficiência dos protocolos na contenção da crise sanitária, mas diante do novo contexto pode ser necessário recuar no grau de abertura dos negócios.

Os últimos dados das pesquisas de atividade econômica, recentemente divulgados, apontam que, em setembro/2020, o índice de produção industrial cresceu 2,6%; o comércio, 0,6%; e serviços, 1,8%, em relação a agosto/2020. No entanto, a comparação com os meses entre janeiro e setembro do ano passado indica que serviços e indústria ainda não recuperaram os níveis de atividade de 2019 – indústria (- 7,2%) e serviço (-8,8%). A atividade de comércio não apresentou variação em relação ao ano passado, indicando a recuperação dos patamares de 2019.  O IBC-Br, considerado uma prévia do PIB trimestral a ser divulgado pelo IBGE nas próximas semanas, teve alta de 9,47%, na comparação com o segundo trimestre. No entanto, o índice ainda está em queda de 3% na comparação com terceiro trimestre de 2019. 

O IBRE/FGV atualizou a projeção de crescimento para o 3T/2020, estimando um crescimento de 7,5% em relação ao trimestre anterior, mas um decrescimento de 4,4% em relação ao 3T/2019. Apesar da “boa” notícia, é importante frisar que estamos recuperando níveis de atividade da pré-covid que já eram considerados ruins. Além disso, os efeitos de médio e longo prazo da crise sanitária podem dificultar ainda mais a retomada, de fato, da economia brasileira e regional. 

Os dados do mercado de trabalho preocupam e indicam a dificuldade de uma retomada que dependa do consumo das famílias, sobretudo diante da possibilidade do fim ou redução dos programas de transferência de renda, como o Auxílio Emergencial. Na quarta semana de setembro, a taxa de desemprego ficou em 14,4%, patamar que era de 10,5% na primeira semana de maio/2020.  Além disso, as reduções de carga horária e salários, bem como o desalento (quando as pessoas desistem de procurar emprego), camuflam a alta subutilização do trabalho na economia brasileira – 15,3 milhões de pessoas não procuram emprego devido à pandemia ou à falta de trabalho em suas regiões, e 19,7 milhões (27%) de trabalhadores estão com rendimento menor do que o normalmente recebido no mesmo período. Em setembro/2020, aproximadamente 34,3% dos domicílios paulistas receberam o Auxílio Emergencial. A média do benefício por domicílio, que era de R$ 901,00, dá os primeiros sinais de redução, atingindo R$894,00.

De forma pragmática, a sustentabilidade da retomada econômica vai depender da retomada/sustentabilidade da capacidade de consumo das famílias, da política de gastos públicos e da recuperação da economia internacional. Os dados do mercado de trabalho mostram que as reduções de salários, o desalento e o empobrecimento da população atingiram níveis bastantes altos, o que pode prejudicar a retomada do consumo nos próximos meses. A retomada do consumo das famílias vai depender, criticamente, da manutenção do Auxílio Emergencial, agora reduzido para metade do benefício anterior, e do resultado do fim das reduções de carga horária e salários e suspensão de contratos. Caso os contratos sejam convertidos na manutenção dos postos de trabalho, com recuperação dos rendimentos, a retomada pode ser mais rápida. No entanto, há a possibilidade de que as reduções e suspensões convertam-se em demissões, caso a economia continue patinando, como ocorria antes da crise sanitária.  O setor externo deu sinais de recuperação, sobretudo nos países que melhor controlaram a pandemia, gerando um viés para importação de commodities agrícolas e minerais do Brasil. No entanto, é importante ressaltar que as exportações representam aproximadamente 14% do PIB brasileiro, isto é, parecem pouco suficientes para puxar taxas de crescimento significativas da produção nacional no curto prazo. Além disso, a segunda onda na Europa e nos Estados Unidos vai afetar as exportações do Brasil para esses destinos (17% das exportações da RMC vão para os Estados Unidos).

Como complicador, há o aumento da preocupação com um possível movimento inflacionário, baseado em gargalos de oferta em alguns setores importantes de insumos, como aço, plástico, alimentos, entre outros. Com o dólar alto, dificuldade de ajuste rápido na oferta de alguns insumos e os primeiros passos da retomada da demanda internacional, os preços para os produtores internos têm subido, já causando alguns reflexos para o consumidor final. O IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), calculado pela FGV, atingiu 17,94% em 12 meses, até setembro 2020.  Esse índice captura, também, aumentos nos custos de insumos que podem ser repassados para o consumidor final em algum momento (IPCA), sobretudo diante do reaquecimento da demanda interna ante a persistência do gargalo de oferta.

Por outro lado, o Governo Federal insiste no diagnóstico de que os impactos econômicos serão de curto prazo e na manutenção do teto de gastos. O “orçamento de guerra”, que permitiu a ampliação de R$ 577,55 bilhões no orçamento de R$3,6 trilhões para 2020, acaba em 31 de dezembro. Até o momento, o Governo não definiu o que vai fazer com o Auxílio Emergencial e outros programas como o Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda (Bem). Sem a revogação do teto dos gastos, esses programas ficam sem previsão de orçamento, de forma que a viabilidade fiscal dos mesmos vai depender, novamente, de outras medidas extraordinárias como um novo “orçamento de guerra”. Na iminência de uma segunda onda, o que podemos afirmar é que, sem medidas de contenção, os efeitos econômicos e sociais serão devastadores para economia brasileira. 




[1] Professor Extensionista e Economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br

[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/Hospital e Maternidade Celso Pierro

[3] Graduando em Geografia e Extensionista da PUC-Campinas (mapas)

[4] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)

[5] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.

[6] Houve alterações na amplitude das faixas de incidência para comportar o crescimento generalizado dos casos no interior de São Paulo.

[7] https://www.seade.gov.br/coronavirus/#

[8] https://covid-19.campinas.sp.gov.br/campinas-tem-577-dos-leitos-de-uti-covid-ocupados-nesta-sexta-feira-2011

[9] https://covid-19.campinas.sp.gov.br/boletim-epidemiologico




Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


Estudo Anterior

Próximo Estudo

Boletim Observatório

Assine nosso boletim e receba no seu e-mail atualizações semanais