COVID-19 na Região de Campinas

Informativo Covid-19 Campinas V1|N30|Semana 49 (29/11 a 05/12)

Equipe:

Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4]

Até o dia 05/12, o Brasil notificou 6,6 milhões de casos e 176,9 mil mortes pela Covid-19, com uma taxa absoluta média de 40,9 mil novos casos e 518 novas mortes por dia.

Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 29/11 e encerrada em 05/12 – semana epidemiológica de número 49, no calendário das autoridades de Saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.

Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana)

A Tabela 1 apresenta as estatísticas semanais de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do estado de São Paulo.  

Neste momento, o DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos. Também em relação ao número absoluto de casos e óbitos por semana, o DRS-Campinas ficou atrás, apenas, da Grande São Paulo.  Até 05/12, foram notificados 133,6 mil casos e 3,8 mil mortes na região de Campinas – letalidade de 2,92%. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC[1]), foram 98,5 mil casos e 2,9 mil óbitos até o momento – letalidade de 3,00%. Por fim, o município de Campinas registrou 38,2 mil casos até o momento, com 1.396 óbitos – letalidade de 3,65% — ver https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/ .


Em linhas gerais, 16 dos 17 Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas crescentes de novos casos. É importante ressaltar que as autoridades de Saúde do estado de São Paulo alegam que o aumento expressivo se deu pela testagem de casos mais leves da doença, recomendada desde 02/07, mas ainda em implementação por alguns municípios do estado.

Em relação à semana anterior, quando o ritmo de avanço da pandemia estava em queda no DRS-Campinas, os casos e mortes tiveram alta, como mostram a Tabela 1 e a Figura 1

A variação do DRS-Campinas em termos de novos casos foi de 6.224 casos (+110,19%); RMC, 4,8 mil casos (+132,55%); e Campinas, 1.560 casos (+98,97%%). Em relação à semana passada, as novas mortes aumentaram no DRS-Campinas, com 75 óbitos (+47,05%); na RMC, 56 (+33,33%); e Campinas com 24 mortes (+41,17%).

Como mostram as Figuras 2 e 3, os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes aumentaram consideravelmente em alguns municípios em relação aos níveis verificados nos últimos informativos divulgados pelo Observatório da PUC-Campinas (https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19-na-regiao-de-campinas-v1n08semana-27-28-06-a-04-07/).[6]


Neste momento, os municípios com menor incidência são Vargem e Monte Alegre do Sul, com 830 e 967 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. Na outra ponta, Paulínia, Jundiaí e Santo Antônio de Posse são os municípios com maior incidência, todos com mais de 3.500 casos por 100 mil habitantes. Em relação aos demais municípios paulistas, 9 dos 42 municípios do DRS-Campinas e oito dos 20 municípios da RMC estão entre os 25% de maior incidência – corte em 3.056 casos por 100 mil habitantes.  

Além disso, Jundiaí e Campinas continuam entre os municípios com maior índice de mortes do DRS-Campinas, com 108 e 118 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente.

Na RMC, Campinas e Engenheiro Coelho são, neste momento, os municípios com os mais altos coeficientes de mortalidade – 118 e 107, respectivamente, sempre por 100 mil habitantes. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios com maiores taxas de mortalidade no estado de São Paulo, com corte em 83 mortes por 100 mil habitantes.

Análise dos especialistas

As últimas semanas foram marcadas pela reversão das iniciativas de flexibilização das medidas de isolamento social, baseadas no anúncio da “quarentena inteligente” do estado de São Paulo.  De acordo com último relatório do Governo do estado, publicado no dia 30/11, todos os departamentos regionais de saúde estão na fase amarela. É importante ressaltar que as prefeituras podem estabelecer maiores restrições ao funcionamento das atividades econômicas do que as previstas pelo plano de flexibilização do estado.

Da perspectiva da saúde, destacam-se os expressivos aumentos nos registros de casos tanto no município de Campinas como na região. Muito provavelmente esses casos registrados têm sua data de início de sintomas no mês de novembro. As curvas de casos novos organizadas por data de início dos sintomas, divulgadas pela Prefeitura de Campinas[7], expressam de forma clara esse aumento na incidência de casos novos desde o início do mês de novembro.

Os dados divulgados sobre atendimento de sintomáticos respiratórios em unidades de saúde da Prefeitura de Campinas apontam que houve aumento de 2% nessa procura entre as semanas 47 e 48. Um outro indicador que gera grande preocupação é a persistência do aumento no número absoluto de indivíduos internados por síndrome respiratória aguda grave (SRAG), observando-se que, neste início de dezembro, o aumento foi mais exuberante em hospitais públicos[2]. Dados divulgados pelo estado de São Paulo, consolidando todo o DRS-Campinas[3], apontam que houve um aumento de 22% no número de internações na semana epidemiológica 49 em relação à semana anterior.

Observando as curvas com os dados de atendimentos, de internações e número de casos confirmados por data de início de sintomas, é possível compreender que, neste momento da epidemia, esses marcadores mais sensíveis e precoces são capazes de antecipar o comportamento da curva de casos confirmados, ou seja, parte significativa desses indivíduos que procuram atendimento por sintomas respiratórios e indivíduos internados com SRAG terá o diagnóstico de COVID-19 confirmado, demonstrando que a circulação do vírus é intensa e que medidas para frear essa disseminação devem ser adotadas oportunamente. Não seria o momento de rever as métricas do Plano São Paulo e fazer novas calibragens buscando a adequação ao momento de clara ascensão de casos para propiciar a adoção de medidas restritivas de forma mais oportuna?

Por fim, neste momento crítico de ascensão de casos, de dificuldade de “remobilização” de leitos para pacientes com suspeita de COVID-19 num cenário de alta demanda também para outras condições, somado à proximidade de feriados e festividades de Natal e Ano-Novo, seria importante que houvesse ações mais contundentes dos órgãos governamentais no sentido de ressaltar a importância das medidas comprovadamente eficazes para evitar a infecção. Entretanto, no dia 27/11, em entrevista coletiva, representantes do Ministério da Saúde optaram por enfatizar a importância de um “tratamento precoce” e minimizar a importância de algumas medidas restritivas sabidamente eficazes para conter a disseminação do vírus. Vale relembrar que não há nenhuma medicação que tenha qualquer ação contra o vírus no período inicial da doença e não há recomendação de uso das medicações propostas pelo Ministério por nenhuma das principais sociedades médicas brasileiras com competência para tratar sobre o tema, nem de instituições internacionais, como o CDC americano ou europeu ou de outros governos pelo mundo. Seria essencial que houvesse uma intensa mobilização das sociedades médicas, instituições de ensino superior, profissionais da saúde no sentido de rebater essa lamentável postura do Ministério da Saúde do Brasil.

Do ponto de vista econômico e social, os efeitos da primeira onda ainda estão presentes no contexto econômico e social, e vivemos um momento de alerta em relação a uma segunda onda. O Departamento Regional de Saúde de Campinas regrediu no Plano São Paulo, assim como todos os demais departamentos que estão, neste momento, na fase amarela. Neste momento, podem funcionar, com menos restrições de capacidade (30% a 40%) e horários, praticamente todas as atividades econômicas.

A sustentabilidade dos avanços na flexibilização, ao que tudo indica, esteve baseada na eficiência dos protocolos na contenção da crise sanitária, mas, diante do novo contexto, pode ser necessário recuar ainda mais no grau de abertura dos negócios, o que pode ser dramático para atividade econômica no contexto de austeridade fiscal imposta pelo Governo Federal.

O PIB do 3T/2020, divulgado há poucos dias, frustrou parcialmente as expectativas do mercado, apresentando crescimento de 7,7% em relação ao 2T/2020, o qual apresentou um decrescimento recorde da atividade econômica (-9,6%). Embora o governo veja com otimismo o crescimento, de fato bem-vindo, é preciso ter cautela ao projetar a velocidade da retomada do crescimento no médio e longo prazos. Quando se analisa o crescimento entre janeiro e setembro de 2020, em comparação com o mesmo período de 2019, observa-se uma queda de 5% do PIB. 

Os dados do mercado de trabalho preocupam e indicam a dificuldade de uma retomada que dependa do consumo das famílias, sobretudo diante da possibilidade do fim ou redução dos programas de transferência de renda, como o Auxílio Emergencial. Na quarta semana de setembro, a taxa de desemprego ficou em 14,4%, patamar que era de 10,5% na primeira semana de maio/2020.  Além disso, as reduções de carga horária e salários, bem como o desalento (quando as pessoas desistem de procurar emprego), camuflam a alta subutilização do trabalho na economia brasileira – 15,3 milhões de pessoas não procuram emprego devido à pandemia ou à falta de trabalho em suas regiões. Em outubro/2020, 17,6 milhões de trabalhadores estavam com rendimento menor do que o normalmente recebido e aproximadamente 33,1% dos domicílios paulistas receberam o Auxílio Emergencial. A média do benefício por domicílio, que era de R$ 901,00, agora mostra os efeitos da redução promovida pelo Governo Federal, atingindo R$ 688,00. Esse efeito certamente vai ser sentido pelo comércio da RMC, e no resultado das vendas de final de ano. Regiões mais pobres certamente devem verificar quedas mais abruptas das vendas.

De forma pragmática, a sustentabilidade da retomada econômica vai depender da retomada/sustentabilidade da capacidade de consumo das famílias, da política de gastos públicos e da recuperação da economia internacional. Os dados do mercado de trabalho mostram que as reduções de salários, o desalento e o empobrecimento da população atingiram níveis bastantes altos, o que pode prejudicar a retomada do consumo nos próximos meses. A manutenção do consumo das famílias vai depender, criticamente, da continuidade do Auxílio Emergencial, agora reduzido para metade do benefício anterior, e do resultado do fim da vigência das reduções de carga horária, salários e suspensão de contratos. Caso os contratos sejam convertidos em manutenção dos postos de trabalho, com recuperação dos rendimentos, a retomada pode ser mais rápida. No entanto, há a possibilidade de que as reduções e suspensões convertam-se em demissões, caso a economia continue patinando, como ocorria antes da crise sanitária.  O setor externo, até o momento, dá sinais de recuperação, sobretudo pelo crescimento do volume de exportações para países que melhor controlaram a pandemia, embora esses países tenham um viés para importação de commodities agrícolas e minerais do Brasil. Além disso, a segunda onda na Europa e nos Estados Unidos vai afetar as exportações do Brasil para esses destinos (17% das exportações da RMC destinam-se  aos Estados Unidos).

Como complicador, preocupa o comportamento de alguns índices de inflação, resultantes dos gargalos de oferta em alguns setores importantes de insumos, como aço, plástico, alimentos, entre outros. Com o dólar alto e a dificuldade de ajuste rápido na oferta de alguns insumos diante dos primeiros passos da retomada da demanda internacional, os preços para os produtores internos têm subido, já causando alguns reflexos para o consumidor final. O IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), calculado pela FGV, atingiu 20,93% em 12 meses, até outubro 2020.  Esse índice captura, também, aumentos nos custos de insumos que podem ser repassados para o consumidor final (IPCA) em algum momento, sobretudo diante do reaquecimento da demanda interna ante a persistência do gargalo de oferta. Por outro lado, o Governo Federal insiste no diagnóstico de que os impactos econômicos serão de curto prazo e na manutenção do teto de gastos. O “orçamento de guerra”, que permitiu a ampliação de R$ 577,55 bilhões no orçamento de R$ 3,6 trilhões para 2020, acaba em 31 de dezembro. Até o momento, o governo não definiu o que vai fazer com o Auxílio Emergencial e outros programas como o Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda (Bem). Sem a revogação do teto dos gastos, esses programas ficam sem previsão de orçamento, de forma que a viabilidade fiscal destes vai depender, novamente, de outras medidas extraordinárias como um novo “orçamento de guerra”. O que podemos afirmar é que, sem medidas de proteção da renda e do emprego e de manutenção do cenário econômico e social, os efeitos de uma possível segunda onda da pandemia serão devastadores para economia brasileira e, consequentemente, para a economia regional.


[1] Professor Extensionista e Economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br

[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/Hospital e Maternidade Celso Pierro

[3] Graduando em Geografia e Extensionista da PUC-Campinas (mapas)

[4] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)

[5] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.

[6] Houve alterações na amplitude das faixas de incidência para comportar o crescimento generalizado dos casos no interior de São Paulo.

[7] https://covid-19.campinas.sp.gov.br/boletim-epidemiologico

[8] https://covid-19.campinas.sp.gov.br/noticias

[9] https://covid19br.github.io/municipios.html?aba=aba3&uf=SP&mun=Campinas&q=dia#


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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