COVID-19 na Região de Campinas

Informativo Covid-19 Campinas V2|N11|Semana 11 (14/03 a 20/03)

Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4]

Até o dia 20/03, o Brasil notificou 11,9 milhões de casos e 292,7 mil mortes pela Covid-19, com uma taxa absoluta média de 72,9 mil novos casos e 2,2 mil  novas mortes por dia [1].

Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 14/03 e encerrada em 20/03 – semana epidemiológica de número 11, no calendário das autoridades de saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.

Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana)

A Tabela 1 apresenta as estatísticas semanais de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do estado de São Paulo.  

O DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos, atrás, apenas, da Grande São Paulo.  Até 20/03, foram notificados 249,2 mil casos e 6,2 mil mortes no DRS Campinas – letalidade de 2,48%. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC[2]), foram 178,5 mil casos e 4,6 mil óbitos até o momento – letalidade de 2,61%. Por fim, o município de Campinas registrou 64,1 mil casos até o momento, com 2,1 mil óbitos – letalidade de 6,56% — ver https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/.

Em linhas gerais, apenas 4 dos 17 Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas decrescentes de novos casos, evidenciando o aumento generalizado e significativo dos casos no estado de São Paulo. Em relação à semana anterior, quando o ritmo de avanço da pandemia estava alta no DRS-Campinas, os casos e mortes tiveram nova alta nesta semana, como mostram a Tabela 1 e as Figuras 1 e 2


Figura 1. Curva Epidemiológica Casos Região de Campinas

Figura 2. Curva Epidemiológica Óbitos Região de Campinas

Foram registrados, nesta semana, 11,6 mil casos no DRS-Campinas (variação de +12,5%, em relação aos casos registrados na semana anterior). Destes, 8,1 mil foram registrados na RMC (var. +16,2%) e 2,1 mil em Campinas (var. +3,91%). Foram 386 mortes no DRS-Campinas (var. +35,4%, em relação às mortes registradas na semana anterior). Destas mortes, 267 ocorreram na RMC (var. +36,26%) e 132 em Campinas (var. +94,12%).

As Figuras 2 e 3 mostram os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes por municípios.

Figura 3. Mapa de Casos da Covid-19 nos Municípios do DRS-Campinas e Engenheiro Coelho

Neste momento, os municípios com menor incidência são Vargem e Tuiuti, com 1300 e 1769 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. Na outra ponta, Paulínia, Holambra e Jundiaí são os municípios com maior incidência, todos com mais de 6932 casos por 100 mil habitantes.

Figura 4.  Mapa da Mortalidade pela Covid-19 no DRS-Campinas e Engenheiro Coelho

Além disso, Campinas e Jundiaí continuam entre os municípios com maior índice de mortes do DRS-Campinas, com 167 e 182 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente. Esses municípios estão, inclusive, estão no grupo dos 25% dos municípios com maiores taxas de mortalidade, no estado de São Paulo, com corte em 143 mortes por 100 mil habitantes.

Análise dos especialistas

De acordo com o 25º balanço do Governo do Estado, publicado no dia 11/03/2021, todos os departamentos regionais de saúde entraram na fase emergencial do Plano São Paulo, no dia 15/03. Com isso, o comércio, shoppings centers e serviços não essenciais não podem funcionar em todo o estado. Bares e restaurantes funcionam para entregas e drive-thru. Além disso, foi implementado o toque de recolher entre as 20h e as 5h. Hospitais, farmácias e atendimento dos serviços de saúde podem operar.

Da perspectiva da saúde, a palavra do momento é colapso. Já há dados apontando mais de uma centena de pacientes aguardando vaga para internação nos últimos dias da semana passada, número que segue aumentando dia a dia. E o cenário no restante da região não é diferente. Além das taxas de ocupação dos leitos hospitalares, todos os serviços deveriam apontar o número de pacientes aguardando leito para termos a real dimensão do problema. No município de Campinas, as taxas de ocupação de leitos de UTI-COVID permaneceram acima de 95% durante toda a semana, com os leitos SUS municipal totalmente ocupados desde 11/03, ainda que, entre os dias 15 e 20/03, mais 20 novos leitos tenham sido ofertados. No HC-Unicamp mais 10 leitos foram abertos na última semana, mas foram rapidamente ocupados também. Um dado que passou a ser divulgado diariamente pela Prefeitura de Campinas ajuda a entender a dimensão do problema. No dia 18/03, eram 163[1] pacientes aguardando leito para internação (não temos a informação de quantos aguardavam leitos intensivos) e, no dia 19/03, eram 167. Ou seja, a velocidade de aumento de novos casos está muito maior do que a capacidade de criar novos leitos de UTI. Para os que advogam que “basta” criar mais e mais leitos para resolver a questão sem precisar de medidas restritivas mais drásticas, a resposta já começou a aparecer nesta semana com a iminente falta de medicamentos necessários para a assistência de pacientes críticos[2] e preocupação com falta de oxigênio. Tudo tem limite. Recursos humanos (médicos, equipe de enfermagem e fisioterapia, higiene, etc.) com condições de prestar uma assistência adequada a esses pacientes são finitos também. 

Infelizmente ainda não há indícios de um cenário melhor nas próximas semanas. O número de atendimentos presenciais de sintomáticos respiratórios nos serviços de Pronto Atendimento e Centros de Saúde de Campinas segue aumentando progressivamente nas últimas semanas[1], com aumento aproximado de 50% no período. Número de novas internações no DRS-Campinas segue batendo recordes. Foram 1.784 internações na última semana (até 20/03), número 27% maior do que na semana anterior e que já é mais do que o dobro de 4 semanas atrás. O registro de novos óbitos em Campinas aumentou 94% em relação à semana anterior (sem ter ocorrido represamento de dados aparentemente)[2], refletindo o aumento explosivo de internações e óbitos que têm ocorrido nas últimas semanas.

A média do índice de isolamento social em Campinas[3] subiu 4% em uma comparação de 2 semanas em relação ao dia 03/03, quando foi instituída a fase vermelha em Campinas e pouco se alterou durante a primeira semana da “fase emergencial”.

Aparentemente, os esforços da Prefeitura de Campinas, até se antecipando em relação a algumas medidas mais restritivas do estado, não estão sendo suficientes para aliviar a situação. Sem a abertura de novos leitos certamente a situação séria ainda mais trágica, mas já está claro que há uma grande desproporção entre demanda e capacidade de aumento de oferta. São necessárias medidas mais rígidas de restrição de circulação. A cada dia que a adoção de medidas mais rígidas é postergada maior o risco de seguirmos nessa situação crítica nas próximas semanas e de mortes evitáveis seguirem ocorrendo. Obviamente não é fácil e nem simples a decretação de um lockdown, mas neste momento não há outra saída.

Do ponto de vista econômico e social, reforçamos que, embora os movimentos de recuo na liberalização das atividades econômicas possam causar perdas imediatas, sobretudo aos comerciantes e prestadores de serviços, a queda da demanda agregada da economia, com drástica redução dos auxílios, deveria preocupar mais neste momento.

Na semana passada, foram divulgados os números oficiais do PIB pelo IBGE. O PIB brasileiro teve queda histórica 4,1% em 2020 em relação a 2019, pior resultado da série iniciada em 1996. Do lado da oferta, apesar de sinais de recuperação no terceiro e quartos trimestres de 2020, no fechamento anual, a indústria recuou 3,5% e serviços 4,5%, enquanto a agropecuária avançou 2%, em relação a 2019. Alguns setores apresentaram alta na comparação anual, como, por exemplo, a indústria extrativa (+1,3%), atividades financeiras (+4%) e atividades imobiliárias (+2,5%). Do lado da demanda, na comparação anual, o consumo das famílias recuou 5,5%, o consumo do governo 4,7% e os investimentos das empresas 0,8%, em 2020. A queda no consumo do governo evidencia a sua opção contracionista, mesmo diante do quadro de contração da demanda agregada.

No setor externo, as exportações caíram 1,8% e as importações 10%. A RMC fechou 2020 com queda de 22,2% das exportações, 9,9% das importações e 3,8% do saldo da balança comercial. Para uma região industrial, com alta dependência da importação de insumos, esses números indicam queda da atividade produtiva voltada para vendas externa e interna, em relação a 2019.

As pesquisas de atividade indicam que na comparação mês a mês a atividade industrial teve alta de 0,4%; comércio, queda de 0,2%; e serviços, 0,6%.

No dia de hoje (15/03/21), foi promulgada a PEC Emergencial (186/2019) que regulamenta o novo auxílio emergencial. A previsão é que as parcelas sejam pagas na primeira semana de abril, com valor médio de R$ 250,00 por família. A demora na liberação e os valores reduzidos em relação aos valores pagos no ano passado preocupam diante da gravidade do quadro sanitário e socioeconômico do país.

Ao mesmo tempo, tem se formado o consenso entre os analistas de mercado e os acadêmicos de que a vacina é a única solução definitiva para o fim das restrições impostas às atividades econômicas, como evidenciado na carta aberta assinada por banqueiros e economistas (ver https://static.poder360.com.br/2021/03/carta-aberta-medidas-de-combate-pandemia-com-assinaturas-21-mar-2021.pdf). Embora haja capacidade de produção local, a necessidade de importação de insumos farmacêuticos tem atrasado a produção de vacinas no Brasil. Neste momento, aproximadamente 4,79% da população da RMC recebeu a primeira dose da vacina, de acordo com dados da Secretaria de Saúde de SP.

Os últimos dados da PNAD-Contínua, para os meses entre setembro e novembro de 2020, estimava uma taxa de desemprego de 14,1%, patamar que era de 10,5% na primeira semana de maio/2020. Além disso, as reduções de carga horária e salários, bem como o desalento (quando as pessoas desistem de procurar emprego), camuflam a alta subutilização do trabalho na economia brasileira – 15,3 milhões de pessoas não procuram emprego devido à pandemia ou à falta de trabalho em suas regiões.

Como complicador, preocupa o comportamento de alguns índices de inflação, resultantes dos gargalos de oferta em alguns setores importantes de insumos. A indústria brasileira depende consideravelmente de insumos importados, e com o dólar alto e dificuldade de ajuste rápido na oferta de alguns insumos diante dos primeiros passos da retomada da demanda internacional, os preços para os produtores internos têm subido, já causando alguns reflexos para o consumidor final. O IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), calculado pela FGV, atingiu 25,71% em 12 meses, em janeiro/2021. Esse índice captura, também, aumentos nos custos de insumos que podem ser repassados para o consumidor final em algum momento, sobretudo diante do reaquecimento da demanda interna sobretudo diante da persistência dos choques de oferta.

Seguimos afirmando que, sem medidas de proteção da renda e do emprego e diante do cenário econômico, social e sanitário atual, a retomada da atividade econômica nacional e regional vai ser lenta.


ANEXOS

ANEXO – 1 Covid-19 nos DRS-São Paulo.


[1] Professor Extensionista e Economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br

[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/Hospital e Maternidade Celso Pierro

[3] Graduando em Geografia e Extensionista da PUC-Campinas (mapas)

[4] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)

[5] Dados do Ministério da Saúde, acessados em 01/03/2021)

[6] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.

[7] https://covid-19.campinas.sp.gov.br/epidemiologico/diario

[8] https://correio.rac.com.br/_conteudo/2021/03/campinas_e_rmc/1076641-insumos-esgotam-e-ameacam-atendimento-em-hospitais.html#:~:text=Al%C3%A9m%20da%20falta%20de%20medicamentos,m%C3%A1scaras%2C%20seringas%20e%20oxig%C3%AAnio%20medicinal

[9] https://covid-19.campinas.sp.gov.br/boletim-epidemiologico

[10] Ramos, N.L.P., Oliveira, P.R.S., Pedroso, F.L. Observatório PUC-Campinas: Painel Interativo Covid-19. Acessado em 22/03/2021

[11] https://www.seade.gov.br/coronavirus/


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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