COVID-19 na Região de Campinas

29/06/2020 Informativo Covid-19 Campinas V1|N07|Semana 26 (21/06 a 27/06)

Equipe:

1] Paulo Ricardo S. Oliveira
[2] André Giglio Bueno
[3] Felipe Pedroso de Lima
[4] Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos

Até o dia 27/06, o Brasil notificou 1,3 milhão de casos e 56,9 mil mortes pela covid-19, com uma taxa absoluta média de 35,1 mil novos casos e 1,01 mil novas mortes por dia. Infelizmente, o país já é o primeiro no ranking mundial da covid-19, em relação à taxa de crescimento diária do número de mortos.

Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 21/06 e encerrada em 27/06 – semana epidemiológica de número 26, no calendário das autoridades de saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.

Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana)

A Tabela 1 apresenta as estatísticas de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do estado de São Paulo, com destaque para a Região Metropolitana de Campinas.  

O DRS-Campinas é, ainda, o terceiro em número de casos e óbitos, atrás apenas da Grande São Paulo e da Baixada Santista. Mas, em relação ao crescimento das mortes e dos casos por semana, o DRS-Campinas ficou atrás, apenas, da Grande São Paulo.  Até o momento, foram notificados 19.050 casos e 797 mortes, na região de Campinas – letalidade de 4,18%. A Região Metropolitana de Campinas (RMC[5]), por sua vez, notificou 13.077 casos e 487 óbitos, até o momento – letalidade de 3,72%. Por fim, o município de Campinas, epicentro da pandemia na RMC, registrou 7.274 casos até o momento, com 292 óbitos – letalidade de 4,0%.


Em linhas gerais, todos os Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas crescentes de novos casos, porém alguns departamentos, destacados em verde, apresentaram decrescimento da taxa de novas mortes, incluindo a Grande São Paulo. Araçatuba, Presidente Prudente e Sorocaba foram as regiões com maior crescimento do número de novos casos.

Em relação à semana anterior, quando houve aumento considerável do ritmo de avanço da pandemia, os casos e óbitos cresceram em ritmo menos acelerado no Departamento Regional de Saúde de Campinas, como mostram a Tabela 1 e a Figura 1

Destaca-se o crescimento relativamente mais acentuado na taxa de novos casos da RMC, em comparação com o ocorrido no DRS-Campinas e munícipio de Campinas. O crescimento do DRS-Campinas em termos de novos casos foi de 5.095 (18,9%); RMC, 3.872 (34,2%); e Campinas, 1.957 (19,6%). Em relação à semana passada, as novas mortes aumentaram, contabilizando, no DRS-Campinas, 184 (9,5%) óbitos; na RMC, 128 (23%); e em Campinas, 81 (28,5%).

Como mostram as Figuras 2 e 3, as taxas de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes também aumentaram consideravelmente em relação aos níveis verificados no último informativo divulgado pelo Observatório da PUC-Campinas (ver – https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19-na-regiao-de-campinas-3/).[1]


Neste momento, os municípios com menor incidência são Joanópolis e Pedreira, com 31,5 e 45,1 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. Na outra ponta, Jundiaí, Paulínia e Campinas são os municípios com maiores incidências, todos com mais de 600 casos por 100 mil habitantes. Em relação aos demais municípios paulistas, 12 dos 42 municípios do DRS-Campinas, e seis[7] dos 20 municípios da RMC estão entre os 25% de maior incidência – corte em 329 casos por 100 mil habitantes.


A partir dos mapas e das estatísticas, os dados começam a revelar correlação considerável entre o número de casos e mortes por 100 mil habitantes – correlação de 60% para o DRS-Campinas. Em outras palavras, municípios com maior incidência são também os municípios com maiores números de mortos.

Até o momento, 11 dos 42 municípios do DRS-Campinas e três[1] dos 20 municípios da RMC não declararam mortes pela covid-19.  Por outro lado, Jarinu e Jundiaí continuam entre os piores municípios do DRS-Campinas, com 50,3 e 40,29 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente.

Na RMC, Campinas, Indaiatuba e Nova Odessa são, neste momento, os municípios com as piores taxas de mortalidade – 24,8, 15,64 e 15,5, respectivamente, sempre por 100 mil habitantes. Estes municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios com maiores taxas de morte a cada 100 mil habitantes, no Brasil.

Análise dos especialistas

As últimas semanas foram marcadas pela implementação das iniciativas de flexibilização das medidas de isolamento social, baseadas no anúncio da “quarentena inteligente” do estado de São Paulo. O DRS-Campinas continua na classificação “laranja”, fase 2, desde o início do programa. Portanto, os prefeitos desses municípios puderam/podem autorizar, por meio de decretos, o funcionamento com restrições das imobiliárias, concessionárias, escritórios, comércio e shopping centers.

O último relatório do Governo do estado define que as regiões que estão na fase vermelha são as dos DRS (Departamentos Regionais de Saúde) de Araçatuba, Bauru, Franca, Marília, Piracicaba, Presidente Prudente, Registro, Ribeirão Preto e Sorocaba. Já na etapa laranja, ficam as áreas de Araraquara, Baixada Santista, Barretos, Campinas, São João da Boa Vista, São José do Rio Preto e Taubaté, além das sub-regiões Leste (Alto Tietê), Norte (Franco da Rocha) e Oeste (Osasco) da Grande São Paulo.

Porém, alguns municípios do DRS-Campinas já começaram a retornar à fase de fechamento do comércio, mesmo diante da permissividade do estado para o funcionamento das atividades da fase 2. Valinhos e Campinas anunciaram o fechamento do comércio a partir do dia 22/06. É importante ressaltar que Campinas e Cosmópolis permitiram a reabertura do comércio no dia 08/06, mais tarde do que os demais municípios da RMC, que o fizeram no dia 01/06. Isto é, o comércio na cidade de Campinas permaneceu aberto por apenas duas semanas.  Infelizmente, os casos e mortes aumentaram drasticamente após duas semanas da abertura do comércio, e continuam em expansão nesta terceira semana.

Do ponto de vista da saúde, diante dos (esperados) maus resultados em termos de número de casos novos após as reaberturas, diversos municípios voltaram atrás em suas decisões e fecharam novamente os comércios de rua.  Seguimos ainda com curvas ascendentes de número de casos novos e óbitos em toda a região, mantendo elevadas taxas de ocupação dos leitos de UTI (ainda com 100% de ocupação dos leitos SUS municipais de Campinas e acima de 80% nos leitos intensivos privados), sem indícios de estabilização e muito menos de queda no número de casos novos. Esperamos que, neste momento, os critérios para reabertura sigam precisamente as orientações técnicas para que seja possível atender de forma digna e com a melhor qualidade possível aqueles que necessitarem de tratamento intensivo.

Do ponto de vista econômico e social, é importante ressaltar que o recorte em nível dos Departamentos Regionais de Saúde não condiz com a dinâmica de integração econômica regional dos municípios. O agravamento da crise econômica demanda soluções estratégicas combinadas com medidas de assistência social para os mais vulneráveis, para que possamos mitigar os efeitos dramáticos sobre a renda e o emprego. Porém, a falta de articulação entre as prefeituras que compõem os polos econômicos regionais, e outras questões que tornam os níveis de isolamento social abaixo do esperado, vão certamente atrasar o retorno seguro às atividades econômicas. Sem articulação, decisões tomadas no âmbito municipal terão grandes impactos na contenção ou avanço da pandemia nosdemais municípios, podendo, inclusive, sobrecarregar o sistema de saúde, que também funciona de forma integrada.

Sobre a atividade econômica, os indicadores já evidenciam, como esperado, queda da atividade industrial, redução dos postos de trabalho e forte queda nas importações e exportações regionais. No primeiro trimestre de 2020, alguns setores da indústria de transformação lograram crescimento ou mesmo estabilidade da produção física, o que segurou o emprego industrial regional. No entanto, os dados de abril já apontaram para forte queda no emprego regional. O choque externo também é considerável, revelando que as importações e exportações operam em praticamente 1/3 do volume verificado para os principais países e produtos, em relação ao mesmo período de 2019 – ver estudos do Observatório PUC-Campinas, disponíveis em https://observatorio.puc-campinas.edu.br.

Não só o fluxo de pessoas que vão ao trabalho deveria ser considerado para a necessidade da articulação dos governos municipais, mas também o efeito que a abertura do comércio municipal, bem como de outras atividades, tem sobre os incentivos de deslocamento de pessoas que estão em municípios que mantiveram as restrições. No entanto, mesmo com a liberação das atividades, o índice de isolamento, em média 47%, não caiu imediatamente, e nem recuperou os níveis pré-fechamento. Isso contrasta com as imagens divulgadas da movimentação no centro dos municípios. Algumas explicações para o fenômeno incluem, de forma não exclusiva: 1) as pessoas têm consumido em estabelecimentos mais próximos de suas residências; 2) as aglomerações nas principais ruas do comércio ocorreram por parte de pessoas que já não estavam isoladas; 3) boa parte dos consumidores ainda estão receosos quanto aos riscos da contaminação, evitando ir até os estabelecimentos comerciais; 4) o efeito sobre a renda e a maior precaução frente à instabilidade econômica tem segurado o consumo.

De todo modo, os indicadores confirmam, como já ressaltavam os especialistas, que o novo normal trará desafios mais duradouros para o funcionamento das atividades econômicas. Canais de compras virtuais (e-commerce) e possível lentidão na recuperação da renda e da confiança deverão atrasar a retomada econômica, impactando todos os setores de atividade.  


[1] Professor extensionista e economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br
[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/ Hospital e Maternidade Celso Pierro
[3] Graduando em Geografia e extensionista da PUC-Campinas (mapas) [4] Graduando em Economia e extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)
[5] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.
[6] Houve alterações na amplitude das faixas de incidência para comportar o crescimento generalizado dos casos no interior de São Paulo.
[7] São esses: Paulínia, Campinas, Valinhos, Monte-Mor, Vinhedo e Sumaré, que entrou para o grupo dos municípios de maior incidência esta semana.


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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