COVID-19 na Região de Campinas

22/06/2020 Informativo Covid-19 Campinas V1|N06|Semana 25 (14/06 a 20/06)

Equipe: [1] Paulo Ricardo S. Oliveira
[2] André Giglio Bueno
[3] Felipe Pedroso de Lima
[4] Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos

Até o dia 20/06, o Brasil notificou 1,06 milhão de casos e 49,9 mil mortes pela covid-19, com uma taxa absoluta média de 31,09 mil novos casos e 1,03 mil novas mortes por dia. Infelizmente, o país já é o primeiro no ranking mundial da covid-19, em relação à taxa de crescimento diária do número de mortos.

Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 14/06 e encerrada em 20/06 – semana epidemiológica de número 25, no calendário das autoridades de saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.

Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana)

A Tabela 1 apresenta as estatísticas de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do estado de São Paulo, com destaque para a Região Metropolitana de Campinas.  

O DRS-Campinas é, ainda, o terceiro em número de casos e óbitos, atrás apenas da Grande São Paulo e da Baixada Santista. Mas, em relação ao crescimento das mortes e dos casos por semana, o DRS-Campinas ficou atrás, apenas, da Grande São Paulo.  Até o momento, foram notificados 13.955 casos e 616 mortes, na região de Campinas. A Região Metropolitana de Campinas (RMC[5]), por sua vez, notificou 9.205 casos e 360 óbitos, até o momento. Por fim, o município de Campinas, epicentro da pandemia na RMC, registrou 5.317 casos até o momento, com 211 óbitos.

Em linhas gerais, todos os Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas crescentes de casos e óbitos, exceto Registro que teve queda na taxa de novos óbitos. Franca, Marília, São João da Boa Vista, Sorocaba e Barretos, mais do que dobraram o ritmo de crescimento dos casos.

Em relação à semana anterior, os casos e óbitos cresceram em ritmo mais acelerado no Departamento Regional de Saúde de Campinas, como mostram a Tabela 1 e a Figura 1

Embora tanto os casos quanto os óbitos tenham crescido em ritmo mais acelerado no DRS-Campinas e na RMC, a taxa de novas mortes cresceu a ritmo ligeiramente menos acelerado no município de Campinas.

Como mostram as Figuras 2 e 3, as taxas de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes também aumentaram consideravelmente em relação aos níveis verificados no último informativo divulgado pelo Observatório da PUC-Campinas, disponível em https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19-na-regiao-de-campinas/.

Neste momento, os municípios com menor incidência são Joanópolis e Pedreira, com 31,5 e 36,5 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. Na outra ponta, Jundiaí, Paulínia e Campinas são os municípios com maiores incidências, todos com mais de 452 casos por 100 mil habitantes. Em relação aos demais municípios paulistas, 11 dos 42 municípios do DRS-Campinas, e 5[6] dos 20 municípios da RMC estão entre os 25% de maior incidência – corte em 243 casos por 100 mil habitantes.  



A partir dos mapas e das estatísticas, os dados começam a revelar correlação considerável entre o número de casos e mortes por 100 mil habitantes – correlação de 61% para o DRS-Campinas. Em outras palavras, municípios com maior incidência são também os municípios com maiores números de mortos.

Até o momento, 11 dos 42 municípios do DRS-Campinas e 4[1] dos 20 municípios da RMC não declararam mortes pela covid-19.  Por outro lado, Jarinu e Jundiaí continuam entre os piores municípios do DRS-Campinas, com 40,2 e 34,64 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente.

Na RMC, Campinas, Indaiatuba e Nova Odessa são, neste momento, os municípios com as piores taxas de mortalidade – 17,9, 12,7 e 12,0, respectivamente, sempre por 100 mil habitantes. Estes municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios paulistas com maiores taxas de morte a cada 100 mil habitantes. Destaca-se a escalada do município de Nova Odessa e a queda em Hortolândia, em relação ao indicador de mortalidade.

Análise dos especialistas

As últimas semanas foram marcadas pela implementação das iniciativas de flexibilização das medidas de isolamento social, baseadas no anúncio da “quarentena inteligente” do estado de São Paulo. O DRS-Campinas continua na classificação “laranja”, fase 2.  Portanto, os prefeitos desses municípios puderam/podem autorizar, por meio de decretos, o funcionamento, com restrições, das imobiliárias, concessionárias, escritórios, comércio e shopping centers.

O último relatório do governo do estado dividiu o estado em duas partes: regiões na fase 2 e regiões na fase 1. Estão na fase 1, em que há maior restrição das atividades econômicas, o DRS-Marília, DRS-Presidente Prudente, DRS-Ribeirão Preto, DRS-Barretos e DRS-Registro.

Porém, alguns municípios do DRS-Campinas já começaram a retornar à fase de fechamento do comércio, mesmo diante da permissividade do estado para o funcionamento das atividades da fase 2. Valinhos e Campinas anunciaram o fechamento do comércio a partir do dia 22/06. É importante ressaltar que Campinas e Cosmópolis permitiram a reabertura do comércio no dia 08/06, mais tarde do que os demais municípios da RMC que o fizeram no dia 1º/06. Isto é, o comércio na cidade de Campinas permaneceu aberto por apenas 2 semanas.  Infelizmente, os casos e mortes aumentaram drasticamente após duas semanas da abertura do comércio.

Do ponto de vista da saúde, é possível observar que os números de novos casos e óbitos seguem aumentando, ainda sem qualquer indício de estabilização, fato que reforça o quão inadequado é o momento para as reaberturas. Mais do que isso, os dados do DRS-Campinas e da RMC demonstrando uma intensidade de aumento consideravelmente maior de casos novos do que na última semana podem já refletir um impacto inicial da reabertura iniciada no dia 1º/06/2020 na maioria dos municípios da região. Ou seja, é grande a probabilidade de elevações ainda mais expressivas nas próximas semanas. Já o aumento do número de óbitos verificado nesta nota possivelmente reflete o momento de intensa circulação do vírus ainda antes das flexibilizações. Infelizmente, é possível que observemos também aumentos mais expressivos nos próximos relatórios. Certamente estamos no pior momento da epidemia em nossa região até agora. Os dados de ocupação dos leitos de UTI do Sistema Único de Saúde no município de Campinas (dados divulgados até 16/06) são muito preocupantes, uma vez que as taxas vêm se mantendo em torno de 90% já há quase um mês, sendo que houve alguns dias com taxa de ocupação de 100%. A corrida para abertura de novos leitos de UTI tanto por iniciativa dos municípios como do estado busca criar um fôlego a mais para o sistema, entretanto vale lembrar que, ainda que se tenha o espaço físico com o leito e os principais equipamentos (como o respirador), pode haver alguma dificuldade em criar equipes capacitadas para essa assistência complexa e desafiadora, além de dificuldade também em prover alguns insumos específicos que são essenciais para uma assistência de qualidade (como, por exemplo, sedativos e bloqueadores neuromusculares) e que vários hospitais têm tido dificuldade em manter os estoques necessários devido à alta demanda. Mesmo com todas as condições ideais, os pacientes com covid-19 que evoluem com necessidade de ventilação mecânica têm uma chance grande de não sobreviver devido à gravidade da doença. Dessa forma, as limitações que possam vir a ocorrer na assistência tanto por falta de equipe (limitações numéricas e técnicas) como por falta de medicamentos críticos podem impactar significativamente a letalidade da doença e, consequentemente, o número de óbitos nas próximas notas.

Do ponto de vista econômico e social, é importante ressaltar que o recorte no nível dos Departamentos Regionais de Saúde não condiz com a dinâmica de integração econômica regional dos municípios. O agravamento da crise econômica demanda soluções estratégicas combinadas com medidas de assistência social para os mais vulneráveis, para que possamos mitigar os efeitos dramáticos sobre a renda e o emprego. Porém, a falta de articulação entre as prefeituras que compõem os polos econômicos regionais, e outras questões que tornam os níveis de isolamento social abaixo do esperado, vão certamente atrasar o retorno seguro às atividades econômicas. Sem articulação, decisões tomadas no âmbito municipal terão grandes impactos na contenção ou avanço da pandemia nosdemais municípios, podendo, inclusive, sobrecarregar o sistema de saúde que também funciona de forma integrada.

Sobre a atividade econômica, os indicadores já evidenciam, como esperado, queda da atividade industrial, redução dos postos de trabalho e forte queda nas importações e exportações regionais. No primeiro trimestre de 2020, alguns setores da indústria de transformação lograram crescimento ou mesmo estabilidade da produção física, o que segurou o emprego industrial regional. No entanto, os dados de abril já apontaram forte queda no emprego regional. O choque externo também é considerável, revelando que as importações e exportações operam em praticamente 1/3 do volume verificado para os principais países e produtos, em relação ao mesmo período de 2019 – ver estudos do Observatório PUC-Campinas, disponíveis em https://observatorio.puc-campinas.edu.br.

Não só o fluxo de pessoas que vão ao trabalho deveria ser argumento para a necessidade da articulação dos governos municipais, mas também o efeito que a abertura do comércio municipal, bem como de outras atividades, tem sobre os incentivos de deslocamento de pessoas que estão em municípios que mantiveram as restrições. No entanto, mesmo com a liberação das atividades, o índice de isolamento, em média 47%, não caiu imediatamente, e nem recuperou os níveis pré-fechamento. Também, as vendas no comércio estão crescendo a ritmo bastante lento. Isso contrasta com as imagens divulgadas da movimentação no centro dos municípios. Algumas explicações para o fenômeno incluem, de forma não exclusiva: 1) as pessoas têm consumido em estabelecimentos mais próximos de suas residências; 2) as aglomerações nas principais ruas do comércio ocorreram por parte de pessoas que já não estavam isoladas; 3) boa parte dos consumidores ainda estão receosos quanto aos riscos da contaminação, evitando ir até os estabelecimentos comerciais; 4) o efeito sobre a renda e a maior precaução ante a instabilidade econômica têm segurado o consumo.

De todo modo, os indicadores confirmam, como já ressaltavam os especialistas, que o novo normal trará desafios mais duradouros para o funcionamento das atividades econômicas. Canais de compras virtuais (e-commerce) e possível lentidão na recuperação da renda e da confiança deverão atrasar a retomada econômica, impactando todos os setores de atividade.  


[1] Professor extensionista e economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br
[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/ Hospital e Maternidade Celso Pierro
[3] Graduando em Geografia e extensionista da PUC-Campinas (mapas) [4] Graduando em Economia e extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)
[5] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.
[6] São estes: Paulínia, Campinas, Valinhos, Monte-Mor e Vinhedo.
[7] Alguns veículos de comunicação divulgaram ocorrência de mortes no município de Morungaba, mas os dados oficiais não contabilizaram tais mortes até o momento.


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


Estudo Anterior

Próximo Estudo

Boletim Observatório

Assine nosso boletim e receba no seu e-mail atualizações semanais