COVID-19 na Região de Campinas

Informativo Covid-19 Campinas  – V2|N21|Semana 21 (23/05 a 29/05) 

Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4] Beatriz Panciera [5] Giuliano Polli [6] 

Até o dia 29/05, o Brasil notificou 16,47 milhões de casos e 461,05 mil mortes pela Covid-19, com uma taxa absoluta média de 60,59 mil novos casos e 1,83 mil novas mortes por dia 7.

Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 22/05 e encerrada em 29/05 – semana epidemiológica de número 21, no calendário das autoridades de saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.

Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana) 

A Tabela 1 apresenta as estatísticas semanais de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do estado de São Paulo.   

O DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos, atrás, apenas, da Grande São Paulo. Até 29/05, foram notificados 350,57 mil casos e 10,27 mil mortes no DRS-Campinas – letalidade de 2,93%. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC8), foram 246,41 mil casos e 7,45 mil óbitos até o momento – letalidade de 3,03%. Por fim, o município de Campinas registrou 84,11 mil casos até o momento, com 3,32 mil óbitos – letalidade de 3,96% — ver https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/.  

Nesta semana, 17 dos 17 Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas decrescentes de novos casos, indicando uma redução no número de novos casos generalizado no Estado de São Paulo em relação a semana passada. Contudo, as novas mortes apresentaram taxas crescentes em 13 dos 17 departamentos do Estado.  Em relação à semana anterior, quando o ritmo de avanço da pandemia estava acelerando no DRS-Campinas, os novos casos tiveram uma queda, mas o número de novos óbitos que estava em queda teve um aumento, como mostram a Tabela 1 e as Figuras 1 e 2.

Figura 1. Curva Epidemiológica Casos Região de Campinas 

Figura 2. Curva Epidemiológica Óbitos Região de Campinas 

Foram registrados, nesta semana, 7,49 mil casos no DRS-Campinas (variação de -28,70%, em relação aos casos registrados na semana anterior). Destes casos, 5,13 mil foram registrados na RMC (var. -24,48%) e 1,42 mil em Campinas (var. -28,48%). Foram 260 mortes no DRS-Campinas (var. 24,40%, em relação às mortes registradas na semana anterior). Destas mortes, 152 ocorreram na RMC (var. 11,76%) e 64 em Campinas (var. 3,23%). 

As Figuras 2 e 3 mostram os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes por municípios. 

Figura 3. Mapa de Casos da Covid-19 nos Municípios do DRS-Campinas e Engenheiro Coelho 

Neste momento, os municípios com maior incidência são Paulínia, Holambra e Santo Antônio de Posse, com 11643,51, 10681,01 e 10048,57 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. É válido lembrar que a incidência é fortemente influenciada pela amplitude da testagem em cada município. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios com maiores taxas de incidência, no estado de São Paulo, com corte em 9270 casos por 100 mil habitantes.  

Figura 4.  Mapa da Mortalidade pela Covid-19 no DRS-Campinas e Engenheiro Coelho 

Além disso, Jundiaí, Campinas e Santa Bárbara d’Oeste continuam entre os municípios com maior índice de mortes do DRS-Campinas, com 289,91, 283,02 e 277,62 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios com maiores taxas de mortalidade, no estado de São Paulo, com corte em 266 mortes por 100 mil habitantes.  

Análise dos especialistas 

Dando continuidade ao que foi decretado pelo Governo do Estado no dia 09/04/2021, todos os departamentos regionais de saúde estão em fase de transição, da fase vermelha para a laranja do Plano São Paulo, desde o dia 18/04/2021. No dia 23/05, o Governo do Estado anunciou uma prorrogação da fase de transição até o dia 1o de junho, com uma única mudança, a de que os estabelecimentos poderiam operar com 10% mais capacidade, com ocupação máxima de 40%. Portanto, a partir da terça-feira, 01/06, era esperada uma grande flexibilização no funcionamento dos setores da economia, em que atividades comerciais e serviços gerais poderiam operar entre as 6h e 22h, com, no máximo, 60% da capacidade. Mas o Governo decidiu estender novamente por mais duas semanas as regras anteriores, devido à alta nos casos de internação, que sobrecarregaram a unidades de tratamento intensivo. A nova data para a flexibilização anunciada é 14 de junho. O toque de recolher continua das 22h às 5h, com manutenção da obrigação de teletrabalho para todas as atividades administrativas e recomendação de escalonamento na entrada e saída da indústria, serviços e comércio, na maior parte do Estado.

Do ponto de vista da saúde, novas internações seguem aumentando no Estado e no DRS-Campinas, com a taxa de ocupação de leitos intensivos em Campinas em 95%, considerando serviços públicos e privados, e 100% entre os públicos9, com fila de espera para leitos intensivos crescendo. Algumas cidades do interior de São Paulo já decretaram medidas mais restritivas para tentar conter esse novo aumento de casos10.  

Apesar desse cenário, na entrevista coletiva do Governo do Estado do dia 26/0511, a seguinte fala do Dr. João Gabbardo gerou grande preocupação: “Aos poucos vamos substituindo uma metodologia de abrir e fechar setores econômicos e empresas para um monitoramento mais inteligente, com maior qualificação, com tudo o que aprendemos nessa pandemia”, sugerindo que o Governo do Estado pode, de fato, renunciar à adoção de medidas mais restritivas e deixar tal responsabilidade para os municípios. É difícil entender a lógica por trás desta estratégia, uma vez que os indicadores estão piorando e a medida mais “pesada” anunciada foi o adiamento de flexibilizações que estavam agendadas para ocorrer nesta semana. Algo como “o cenário está piorando, vamos continuar a fazer o que estamos fazendo”. O número de novas internações nesta última semana está acima daquele observado nas semanas 9 e 10, quando foram implantadas as fases vermelha e emergencial em sequência. A taxa de ocupação de leitos intensivos no Estado era de 83% no dia 28/05, acima portanto dos 82% verificados no dia 06/03, data de início da fase vermelha em todo o Estado12

A estratégia de testar e isolar os casos positivos já está proposta desde o início da epidemia e, apesar da previsão de uma grande disponibilização de testes nos próximos meses, a logística de implantação de uma testagem mais ampla não é simples e muitas secretarias de saúde podem ter dificuldades, devido às limitações de recursos humanos. A estratégia de rastreamento, isolamento e monitoramento de contatos segue com dificuldades de implantação pelo mesmo motivo. Além disso, essas ações dependem essencialmente de uma grande disciplina da população em seguir as recomendações das autoridades sanitárias, visto que é muito difícil verificar se as pessoas estão, de fato, isoladas. Dessa forma, há o risco de tais estratégias seguirem pouco efetivas no controle da epidemia e insuficientes para promover uma redução da circulação do vírus sem a “ajuda” de medidas mais restritivas. 

Aguardemos as próximas ações de governos municipais e estadual. De acordo com o “antigo” Plano São Paulo, as atuais taxas de ocupação de leitos intensivos em Campinas demandariam a adoção de medidas mais restritivas, compatíveis com a fase vermelha. Sem intervenções oportunas poderemos observar pioras ainda maiores dos indicadores, que podem nos conduzir a momentos tão críticos como aqueles vividos no mês de março. 

Do ponto de vista econômico e social, a taxa de desemprego alta e crescente (14,7%, 1T/2021), combinada com o ritmo lento da vacinação e com o recrudescimento dos casos, preocupa pela provável necessidade da implementação de novas medidas de distanciamento físico. Uma nova onda de casos pode reverter a relativa positividade dos indicadores econômicos regionais e nacionais no 1T/2021.   

Após surpresa positiva dos dados em fevereiro/21, os dados de março/21 apontam para queda na atividade industrial (-2,4%), de serviços (-4,0%) e de comércio (-0,6%), para a economia nacional.  Para o comércio, em particular, a queda foi relativamente baixa, uma vez que se esperava que o grave cenário sanitário e as necessárias medidas de contenção da pandemia causassem impactos mais substanciais na atividade. De todo modo, segundo a Carta de Conjuntura do IPEA 1, o PIB brasileiro deve ter sofrido queda de -0,5% no 1T/2021, e deve crescer 3% no ano, o que significa decrescimento dinâmico descontando-se a herança estatística de 2020, desafiando a sustentabilidade da retomada regional.  

A reativação do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) e do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm) deve ter impacto positivo para o 2T/2021, apesar do atraso e da redução significativa nos montantes previstos para manutenção dos programas.  

É preciso ressaltar que o BEm, apesar de forte impacto negativo na manutenção dos níveis de renda, mostrou-se eficaz na estabilização da taxa de desemprego – em níveis altos, é fato — no ano passado. Para salários mais baixos, próximos ao salário mínimo, o impacto na renda individual é pequeno ou nulo, mas para salários maiores, os impactos negativos nos rendimentos são consideráveis.  Em 2020, na RMC, foram efetuados aproximadamente 500 mil acordos de flexibilização (28% da mão de obra formal regional), sendo 60% dos acordos para suspensão total ou 70% de redução dos salários e da carga horária.  

Em relação ao emprego, os últimos dados da PNAD-Contínua, para os meses entre jan/2020 a mar/2021, estimam uma taxa de desocupação recorde no Brasil de 14,7% (alta de 0.3 pontos percentuais), patamar que era de 10,5% na primeira semana de maio/2020. No entanto, na RMC, de acordo com dados do Observatório PUC-Campinas, a criação de novos postos de trabalho tem dado sinais de alta – foram 5,3 mil vagas em março/2021, com saldo positivo de 23,7 mil postos no 1T/2021. Também, os dados do setor externo seguem em forte alta com aumentos de 57,2 % nas exportações e 18,2% nas importações do mês de abril de 2021, em relação ao mesmo período do ano passado. O aumento das exportações e importações foi generalizado, porém, proporcionalmente mais marcado para produtos de média-alta e alta complexidade, categorias que concentram a maior parte do volume das transações da RMC. 

Em relação aos preços, O IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), calculado pela FGV, atingiu 31,1% em 12 meses, em março/2021.  Esse índice captura, também, aumentos nos custos de insumos que podem ser repassados para o consumidor final em algum momento. O IPCA acumulado de 12 meses atingiu 6,10% em março/21, puxado, sobretudo pelo aumento continuado do preço da gasolina, quando o centro da meta de inflação para o ano de 2021 é de 3,75%.   

Por fim, as expectativas de retomada para boa parte dos analistas estão bastante ancoradas no avanço e eficácia da vacinação. Até o momento, no DRS-Campinas, aproximadamente 21,8% (var. semanal de +1,8 p.p.) da população recebeu a primeira dose da vacina, enquanto 11,2% (var. semanal de +0,8 p.p.)  recebeu a segunda dose. Seguimos afirmando que, sem medidas realmente efetivas de proteção da renda e do emprego e sem a aceleração na taxa de vacinação, a retomada da atividade econômica nacional e regional pode ser desnecessariamente lenta.

ANEXOS

Covid-19 nos DRS-São Paulo

[1] Professor Extensionista e Economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br

[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/Hospital e Maternidade Celso Pierro

[3] Graduando em Geografia e Extensionista da PUC-Campinas (mapas)

[4] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)

[5] Graduanda em Administração pela PUC-Campinas e Extensionista da PUC-Campinas (atualização de dados semanais)

[6] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (atualização de dados semanais)

[7] Dados do Ministério da Saúde

[8] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.

[9] – https://covid-19.campinas.sp.gov.br/epidemiologico/diario 

[10] – https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2021/05/piora-da-pandemia-faz-lockdown-se-espalhar-no-interior-de-sp-e-ate-farmacias-sao-fechadas.shtml

[11] – https://www.youtube.com/watch?v=DzsA7vE93VM

[12] – https://www.seade.gov.br/coronavirus/#


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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