COVID-19 na Região de Campinas

Informativo Covid-19 Campinas V1|N18|Semana 37 (06/09 a 12/09)

Equipe:

Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4]

Até o dia 12/09, o Brasil notificou 4,31 milhões de casos de Covid-19, com 131,2 mil mortes, com uma taxa absoluta média de 27,5 mil novos casos e 715 novas mortes por dia.

Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 06/09 e encerrada em 12/09 – semana epidemiológica de número 37, no calendário das autoridades de Saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.

Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana)

A Tabela 1 apresenta as estatísticas semanais de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do Estado de São Paulo.  

Neste momento, o DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos neste Estado. Também em relação ao número absoluto de casos e óbitos por semana, o DRS-Campinas ficou atrás, apenas, da Grande São Paulo.  Até 12/09, foram notificados 95,3 mil casos e 2,9 mil mortes, na região de Campinas – letalidade de 3,12%. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC[1]) foram 70,7 mil casos e 2,1 mil óbitos, até o momento – letalidade de 3,09%. Por fim, o município de Campinas registrou 29,2 mil casos até o momento, com 1.119 óbitos – letalidade de 3,76% – ver https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/ .

Em linhas gerais, 15 dos 17 Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas decrescentes de novos casos. É importante ressaltar que as autoridades de Saúde do Estado de São Paulo alegam que o aumento expressivo se deu pela testagem de casos mais leves da doença, recomendado desde 02/07 mas ainda em implementação por alguns municípios do Estado.

Em relação à semana anterior, quando o ritmo de avanço da pandemia estava em queda no DRS-Campinas, os casos e mortes decresceram a ritmo maior, como mostram a Tabela 1 e a Figura 1

A variação do DRS-Campinas em termos de novos casos foi de 3,8 mil casos (-34.07%); RMC, 2,7 mil casos (-33.30%) e Campinas, 818 mil casos (-46.64%). Em relação à semana anterior, as novas mortes decresceram no DRS-Campinas, 123 óbitos (-25.90%); na RMC, 93 (-34.96%), Campinas, 48 (-12.72%). Como mostram as Figuras 2 e 3, os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes aumentaram consideravelmente em alguns municípios em relação aos níveis verificados nos últimos informativos divulgados pelo Observatório da PUC-Campinas (https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19-na-regiao-de-campinas-v1n08semana-27-28-06-a-04-07/).[6]

Até o momento, 3 dos 42 municípios do DRS-Campinas não declararam mortes pela Covid-19.  Por outro lado, Jundiaí e Campinas continuam entre os municípios com maior índice de mortes do DRS-Campinas, com 92 e 91,1 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente.

Na RMC, Campinas e Santa Bárbara d’Oeste são, neste momento, os municípios com os mais altos coeficientes de mortalidade – 95 e 76 respectivamente, sempre por 100 mil habitantes. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios com maiores taxas de mortalidade, no Estado de São Paulo, com corte em 51 mortes por 100 mil habitantes.

Análise dos especialistas

As últimas semanas foram marcadas pela reversão das iniciativas de flexibilização das medidas de isolamento social, baseadas no anúncio da “quarentena inteligente” do Estado de São Paulo.  De acordo com último relatório do Governo do Estado, publicado no dia 11/09, todos os Departamentos Regionais de Saúde se encontram na fase amarela. É importante ressaltar que as prefeituras podem estabelecer maiores restrições ao funcionamento das atividades econômicas do que as previstas pelo plano de flexibilização do Estado.

Da perspectiva da saúde, os números seguem apontando uma desaceleração bastante consistente da epidemia. Todo o Estado de São Paulo se encontra na fase amarela do Plano, sendo que os indicadores referentes ao número de leitos COVID presentes nas regiões e taxas de ocupação de leitos de UTI COVID estão nos patamares da fase verde para todas as regiões. Ou seja, a pressão sobre o Sistema de Saúde definitivamente diminuiu, permitindo que os hospitais voltassem a ser ocupados majoritariamente por pacientes com outras doenças, com a retomada de procedimentos eletivos inclusive. Já os indicadores que expõem a evolução da epidemia nas regiões (taxas de novas internações e novos óbitos) seguem quase que totalmente nos patamares da fase amarela. É um momento, portanto, em que os hospitais devem se readequar para voltar a receber as demandas “reprimidas” de outras patologias, mas sem descuidar dos casos de COVID-19 que seguirão ocorrendo.

A manutenção da desaceleração da epidemia em Campinas e região, a despeito das flexibilizações sequenciais, indica que esse pode ser o cenário dos próximos meses.

Vale ressaltar, entretanto, que a responsabilidade individual vai aumentando. Cada indivíduo deverá seguir controlando os riscos para todas as atividades que envolvam contato com outras pessoas. O gradiente de risco sempre terá as atividades ao ar livre, com poucas pessoas, com distanciamento físico, com utilização de máscaras, num extremo de menor risco, enquanto atividades em ambientes fechados e mal ventilados, com aglomerações, sem distanciamento e baixa adesão ao uso de máscaras ficam no extremo, com maior risco. Esse extremo deve continuar sendo evitado.

Do ponto de vista econômico e social, a pandemia continua afetando a atividade econômica e as oportunidades de geração de renda. O Departamento Regional de Saúde de Campinas está há mais de um mês na “fase amarela”. Neste momento, podem funcionar, com restrições, bares e restaurantes, salões de beleza, academias, escritórios, cursos livres, aulas práticas de autoescolas, além do relaxamento das restrições ligadas à fase anterior para o comércio e shoppings. A sustentabilidade dos avanços na flexibilização, ao que tudo indica, está baseada na eficiência dos protocolos na contenção da crise sanitária. Porém, a recuperação econômica, infelizmente, vai depender de outros fatores para além das reaberturas.

Em relação à atividade econômica nacional, os dados mais recentes do IBGE mostram que houve aumento da atividade na comparação entre junho e julho/2020 – indústria (+8,0%), comércio (+5,2%) e serviços (+2,6%). No entanto, a comparação com os meses entre janeiro-julho do ano passado mostra que a economia ainda não se recuperou do impacto da crise do Coronavírus – indústria (-9,6%), comércio varejista (-1,8%) e serviços (-8,9%). 

Por outro lado, o PIB do segundo trimestre caiu 9,7% na comparação com o primeiro trimestre, que já havia apresentado queda de 2,5%. Os dados do mercado de trabalho preocupam, já que contrastam com os resultados relativamente positivos na recuperação da atividade econômica nacional e indicam as dificuldades para uma retomada baseada no consumo das famílias. Na terceira semana de agosto, a taxa de desemprego foi de 13,2%. Além disso, as reduções de cargos e salários e o desalento (quando as pessoas desistem de procurar emprego) camuflam a alta subutilização do trabalho na economia brasileira. No mês de julho, 17,1 milhões de pessoas não procuraram trabalho devido à pandemia ou à falta de trabalho em suas regiões, e 30,1% dos trabalhadores tiveram rendimento menor do que o normalmente recebido. Ainda em julho, aproximadamente 35% dos domicílios paulistas receberam o auxílio emergencial, média de R$ 896,00 por domicílio.

O número de pessoas que não procuram emprego por conta da pandemia tem diminuído. Esse número chegou a 18,5 milhões de pessoas em semanas anteriores. A tendência de redução deste indicador, porém, pode aumentar o número de desempregados, isto é, pessoas que procuram, mas não encontram emprego, a depender das condições do mercado de trabalho. O número de famílias recebendo o auxílio emergencial, no entanto, sofreu aumentos nas últimas semanas — no Brasil são 44,1% dos domicílios recebendo o auxílio. A retomada do consumo das famílias vai depender criticamente da manutenção do auxílio emergencial, agora reduzido para metade do valor inicial, e do cenário resultante do fim das reduções de cargos e salários e suspensão de contratos. Caso os contratos sejam convertidos na manutenção dos postos de trabalho, com recuperação dos rendimentos, a retomada pode ser mais rápida. No entanto, há a possibilidade de que as reduções e suspensões convertam-se em demissões quando cessarem as obrigações contratuais dos acordos. De forma pragmática, a sustentabilidade da retomada econômica vai depender da retomada da capacidade de consumo das famílias, da política de gastos públicos e da recuperação da economia internacional. Os dados do mercado de trabalho mostram que as reduções de salários, o desalento e o empobrecimento da população atingiram níveis bastante altos, o que pode prejudicar a retomada do consumo nos próximos meses. O governo insiste no diagnóstico de que os impactos econômicos serão de curto prazo e aposta na manutenção do teto de gastos. O setor externo tem mostrado sinais de recuperação, sobretudo nos países que melhor controlaram a pandemia, com viés para importação de commodities agrícolas e minerais. No entanto, é importante ressaltar que as exportações representam aproximadamente 14% do PIB brasileiro, isto é, parece insuficiente para puxar taxas significativas de crescimento da produção nacional no curto prazo, sobretudo para bens industriais. Como complicador, um movimento inflacionário, baseado em gargalos de oferta em alguns setores importantes de insumos, como aço, plástico, alimentos, entre outros, tem-se consolidado. Com o dólar alto, dificuldade de ajuste rápido na oferta de alguns insumos e os primeiros passos da retomada da demanda internacional, os preços para os produtores internos têm subido, já tendo reflexos para o consumidor final. O IGP-M, (Índice Geral de Preços do Mercado) calculado pela FGV, atingiu 13,02% em 12 meses, até agosto 2020.  Esse índice captura aumentos nos custos de insumos que podem ser repassados para o consumidor final em algum momento, sobretudo diante do reaquecimento da demanda interna ante a persistência do gargalo de oferta. Nesse contexto, a retomada da demanda interna, via consumo das famílias ou gasto do governo, deverá ser acompanhada de políticas de mitigação do aumento dos custos de insumo, como, por exemplo, a valorização do real em relação ao dólar, controle de exportação, dentre outros mecanismos.

ANEXOS ANEXO – 1 Covid-19 nos DRS-São Paulo

ANEXO – 2 Curva de novos casos e mortes nos DRS-São Paulo – Interior

ANEXO 3 – Risco de transmissão pelo SARS-CoV-2

[1] Professor Extensionista e Economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br

[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/Hospital e Maternidade Celso Pierro

[3] Graduando em Geografia e Extensionista da PUC-Campinas (mapas)

[4] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)

[5] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.

[6] Houve alterações na amplitude das faixas de incidência para comportar o crescimento generalizado dos casos no interior de São Paulo.

[7] BMJ 2020;370:m3223. http://dx.doi.org/10.1136/bmj.m3223. Published: 25 August 2020


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


Estudo Anterior

Próximo Estudo

Boletim Observatório

Assine nosso boletim e receba no seu e-mail atualizações semanais