COVID-19 na Região de Campinas V1|N08|Semana 27 (28/06 a 04/07)

Equipe:
Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4]


Até o dia 04/07, o Brasil notificou 1,5 milhão de casos e 64,26 mil mortes pela covid-19, com uma taxa absoluta média de 37,6 mil novos casos e 1,02 mil novas mortes por dia. Infelizmente, o país já é o primeiro no ranking mundial da covid-19, em relação à taxa de crescimento diária do número de mortos.

Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 28/06 e encerrada em 04/07 – semana epidemiológica de número 27, no calendário das autoridades de saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.

Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana)

A Tabela 1 apresenta as estatísticas de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do estado de São Paulo, com destaque para a Região Metropolitana de Campinas.  

Neste momento, o DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos, após ter ultrapassado a Baixada Santista. Também em relação ao crescimento das mortes e dos casos por semana, o DRS-Campinas ficou atrás, apenas, da Grande São Paulo.  Até o momento, foram notificados 24.350 casos e 975 mortes, na região de Campinas – letalidade de 4,0%. A Região Metropolitana de Campinas (RMC[5]) notificou 17.045 casos e 612 óbitos, até o momento – letalidade de 3,6%. Por fim, o município de Campinas registrou 9.130 casos até o momento, com 364 óbitos – letalidade de 4,0%.

Tabela 1 – Casos e Óbitos nos Departamentos Regionais de Saúde do Estado de São Paulo

Fonte: Observatório PUC-Campinas, com base nos dados do SEADE-2020.

Em linhas gerais, muitos Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas decrescentes ou pequenas taxas crescentes de novos casos. Porém, destacam-se o DRS de Presidente Prudente e Registro que apresentaram o maior crescimento do número de novos casos.

Em relação às semanas anteriores, quando o ritmo de avanço da pandemia atingiu níveis preocupantes no DRS-Campinas, os casos cresceram a ritmo bem menor e os novos óbitos decresceram, como mostram a Tabela 1 e a Figura 1

O crescimento do DRS-Campinas em termos de novos casos foi de 5.300 (4,0%); RMC, 3.968 (2,47%); e Campinas, 1.856 (-5,1%). Em relação à semana passada, as novas mortes diminuiram, contabilizando, no DRS-Campinas, 178 (-2,2%) óbitos; na RMC, 125 (-2,3%); e em Campinas, 72 (-11,1%). Como mostram as Figuras 2 e 3, os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes aumentaram consideravelmente em alguns municípios em relação aos níveis verificados

Como mostram as Figuras 2 e 3, os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes aumentaram consideravelmente em alguns municípios em relação aos níveis verificados no último informativo divulgado pelo Observatório da PUC-Campinas (ver-https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19-na-regiao-de-campinas-4/).

Neste momento, os municípios com menor incidência são Joanópolis e Pedreira, com 39,1 e 62,3 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. Na outra ponta, Paulínia, Jundiaí e Campinas são os municípios com maiores incidências, todos com mais de 750 casos por 100 mil habitantes. Em relação aos demais municípios paulistas, 14 dos 42 municípios do DRS- Campinas e [7] dos 20 municípios da RMC estão entre os 25% de maior incidência – corte em 415 casos por 100 mil habitantes.  

Os dados continuam a revelar correlação considerável entre o número de casos e mortes por 100 mil habitantes – correlação de 61,4% para o DRS-Campinas. Em outras palavras, municípios com maior incidência são também os municípios com maiores números de mortos. Até o momento, 12 dos 42 municípios do DRS-Campinas e três[8] dos 20 municípios da RMC não declararam mortes pela covid-19.  Por outro lado, Jarinu e Jundiaí continuam entre os piores municípios do DRS-Campinas, com 53,6 e 48,6 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente.

Na RMC, Campinas, Nova Odessa e Indaiatuba são, neste momento, os municípios com os piores coeficientes de mortalidade – 30,9, 22,39 e 18,5, respectivamente, sempre por 100 mil habitantes. Estes municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios com maiores taxas de morte a cada 100 mil habitantes, no Brasil.

Análise dos especialistas

As últimas semanas foram marcadas pela reversão das iniciativas de flexibilização das medidas de isolamento social, baseadas no anúncio da “quarentena inteligente” do estado de São Paulo. O DRS-Campinas foi reclassificado para fase vermelha, ou fase 1, após ter permanecido na fase laranja desde o início do programa. Portanto, somente as atividades essenciais poderão funcionar enquanto perdurar a restrição.

O último relatório do Governo do estado colocou algumas sub-regiões do DRS – São Paulo na fase amarela; a Baixada Santista, Taubaté, São João da Boa Vista, Araraquara, São José do Rio Preto e Barretos na fase laranja; e os demais DRS na fase vermelha.

Destaca-se, no entanto, que alguns municípios do DRS-Campinas já começaram a retornar à fase de fechamento do comércio, antes da determinação do estado restringir o funcionamento de algumas atividades econômicas. Valinhos e Campinas anunciaram o fechamento do comércio desde o dia 22/06. É importante ressaltar que Campinas e Cosmópolis permitiram a reabertura do comércio no dia 08/06, mais tarde do que os demais municípios da RMC, que o fizeram no dia 01/06. Isto é, o comércio na cidade de Campinas permaneceu aberto por apenas duas semanas.  Infelizmente, os casos aumentaram drasticamente na terceira e na quarta semana da abertura do comércio, na RMC. Do ponto de vista da saúde, os casos seguem aumentando em toda a região, mas, aparentemente, em velocidade inferior à da última semana. É necessário observar o comportamento das curvas nas próximas semanas para verificar se, de fato, estamos entrando em uma fase de estabilização da epidemia na região ou se trata de uma variação pontual nos números. Recentemente, foram publicados os dados de um estudo do Centro de Pesquisas Epidemiológicas da Universidade Federal de Pelotas – EPICOVID19-BR – que buscou mapear a porcentagem de indivíduos com testes positivos para a presença de anticorpos contra o vírus Sars-Cov-2 em todas as regiões do Brasil, com coletas inclusive na cidade de Campinas. Na terceira fase do estudo, com coletas realizadas entre 21 e 24 de junho, o percentual de positividade em Campinas foi de 1,8%. Ou seja, apenas 1,8% da população campineira teria tido contato com o vírus[9]. Há algumas cidades das regiões Norte e Nordeste com números acima dos 20%.

Sem entrar no debate que trata da qualidade e duração da “imunidade” contra o vírus, há estimativas que colocam a necessidade de que cerca de 60% da população deva estar imune ao vírus para que possamos desfrutar da “imunidade de rebanho” e caminhar para o fim da epidemia; outras colocam um valor de 20%. De qualquer forma, aparentemente, estamos bem distantes destes números em nossa região, de modo que é necessário permanecer com a máxima atenção às medidas para prevenção da infecção, essencialmente o distanciamento social.

Fiquemos atentos também a quais critérios serão adotados pelos diversos municípios para estabelecer as novas reaberturas, após essa recolocação da região na classificação vermelha do estado, visto que os resultados das aberturas praticadas no início de junho foram trágicos, promovendo aumento expressivo de número de casos e óbitos.

Do ponto de vista econômico e social, é importante ressaltar que o recorte em nível dos Departamentos Regionais de Saúde não condiz com a dinâmica de integração econômica regional dos municípios. O agravamento da crise econômica demanda soluções estratégicas combinadas com medidas de assistência social para os mais vulneráveis, para que possamos mitigar os efeitos dramáticos sobre a renda e o emprego. Porém, a falta de articulação entre as prefeituras que compõem os polos econômicos regionais, e outras questões que tornam os níveis de isolamento social abaixo do esperado, vão certamente atrasar o retorno seguro às atividades econômicas. Sem articulação, decisões tomadas no âmbito municipal terão grandes impactos na contenção ou avanço da pandemia nosdemais municípios, podendo, inclusive, sobrecarregar o sistema de saúde, que também funciona de forma integrada.Não só o fluxo de pessoas que vão ao trabalho deveria ser considerado para a necessidade da articulação dos governos municipais, mas também o efeito que a abertura do comércio municipal, bem como de outras atividades, tem sobre os incentivos de deslocamento de pessoas que estão em municípios que mantiveram as restrições.

Sobre a atividade econômica, os indicadores já evidenciam, como esperado, queda da atividade industrial, redução dos postos de trabalho e forte queda nas importações e exportações regionais. No primeiro trimestre de 2020, alguns setores da indústria de transformação lograram crescimento ou mesmo estabilidade da produção física, o que segurou o emprego industrial regional. No entanto, os dados de abril já apontaram para forte queda no emprego regional. O choque externo também foi considerável, revelando que as importações e exportações operam em praticamente 1/3 do volume verificado para os principais países e produtos, em relação ao mesmo período de 2019 – ver estudos do Observatório PUC-Campinas, disponíveis em https://observatorio.puc-campinas.edu.br.  

No entanto, a produção industrial brasileira teve aumento de 7% na comparação entre maio/2020 e abril/2020, de acordo com os dados do IBGE, após tombo de 18,8% em abril. Em relação a maio/2019, a queda foi de 21,9% em maio/2020. É preciso ter cautela sobre o otimismo destes indicadores, haja vista a dependência do cenário econômico ante a evolução da pandemia e a incerteza sobre a mesma. Os dados da PNAD Covid-19 apontam que o nível de ocupação em maio esteve em aproximadamente 50% da população economicamente ativa. A taxa de desocupação, no entanto, atingiu 11,4% (10,9 milhões de pessoas desocupadas)[10]. A baixa taxa de desocupação é resultado, sobretudo, do desalento e da redução de carga horária e salários que disfarçam a desocupação. De todo modo, os indicadores apontam, como já esperado, que a pandemiaterá efeitos mais duradouros sobre a atividade econômica. Em outras palavras, a possível lentidão na recuperação da renda e da confiança deverá atrasar a retomada econômica, impactando todos os setores de atividade.  


ANEXOS

ANEXO – 2 Covid-19 nos DRS-São Paulo. 

[1] Professor extensionista e economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br

[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/ Hospital e Maternidade Celso Pierro

[3] Graduando em Geografia e extensionista da PUC-Campinas (mapas)

[4] Graduando em Economia e extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)

[5] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.

[6] Houve alterações na amplitude das faixas de incidência para comportar o crescimento generalizado dos casos no interior de São Paulo.

[7] São esses: Paulínia, Campinas, Valinhos, Monte-Mor, Vinhedo e Sumaré, que entrou para o grupo dos municípios de maior incidência esta semana. [8] Santo Antônio de Posse, Pedreira e Holambra.

[9] Estudo disponível em http://www.epidemio-ufpel.org.br/site/content/home .

[10] Dados disponíveis em https://covid19.ibge.gov.br/pnad-covid/.


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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