Panorama dos casos de Covid-19 em cidades da Região Metropolitana de Campinas (Maio/2020)

Elaboração técnica: Dr. Cristiano Monteiro da Silva – Docente Extensionista da PUC-Campinas

Alunos extensionistas:
Guilherme de Menezes Carloni
Gabriela Leal Paes
Gabriela Martos de Oliveira
Laura di Lacio Aboud
Luana Bueno Ortolan
Luana Nicole Gulicz Vial
Nathalia Falseti
Pedro Henrique de Carolis Sodre
Rafaela Afonso Santos
Rozelelpane Eliazama Bernardo Silva
Tiago Casagrande Ferrari

Introdução

A pandemia de covid-19 manifesta-se como um problema social de natureza complexa. A doença vem provocando a perda de muitas vidas humanas, em diversos lugares do mundo, inclusive aqui no país, que tem apresentado taxa de letalidade cada vez mais alta. Ademais, essa pandemia se associa a fatores sistêmicos e impulsiona uma multiplicidade de aspectos contraditórios à saúde pública, ao processo de trabalho, à interação entre as pessoas que promovem conhecimentos, lazer e cultura, enfim, instaura uma crise na vida social.

A abstração científica precisa do analítico coerente sobre a multiplicidade de fatores desse problema social, para que possa promover as noções que dizem respeito à sua situação dinâmica, no sentido dos possíveis enfrentamentos por meio de ações sociais e de políticas públicas. Este estudo tenta contribuir com noções que incorporam as relações entre os aspectos marcantes da vida social das cidades da Região Metropolitana de Campinas (RMC) e a situação dinâmica dos casos de covid-19 desta referida localidade, tais como a noção do fator geográfico de proximidade entre as cidades; a mobilidade – mais forte na população economicamente ativa; a residência da população idosa em domicílios permanentes; a leitura da população que se manifesta nesta pandemia como número de casos de covid-19, no sentido de servir ao poder decisório das lideranças locais que estão em defesa da vida.  

Na dimensão metodológica, cabe observar que este informativo integra as publicações periódicas do Observatório da PUC-Campinas, que exploram questões exponenciais do desenvolvimento social da Região Metropolitana de Campinas. Como já colocado, dada a natureza complexa desse problema social, a análise implícita de dados é dificultada pelos limites impostos à apreensão assertiva da dinâmica dos múltiplos fatores que constituem a pandemia de covid-19, tornando-se mais difícil ainda a modelagem preditiva. Este trabalho posiciona-se com o procedimento metodológico de uma análise exploratória de dados, somado à abstração apoiada em saberes advindos de leituras ascendentes de textos e de interações com os agentes locais. Isso dá o sentido de uma produção científica que agrega a estruturação dos dados, a vista panorâmica do problema social, bem como a construção de noções gerais da situação dinâmica da pandemia de covid-19 e seus efeitos na Região Metropolitana de Campinas.

A estrutura do texto é alinhada com a linguagem de um informativo período. A primeira parte é dedicada ao analítico exploratório de dados, peculiarmente, os casos e óbitos derivados da covid-19, mais a discussão sobre a taxa de isolamento social, sucedido pelo o que aqui se conhece como noções do problema social.

  1. A evolução dos casos de covid-19

O primeiro gráfico permite a apreensão de que o total dos casos de covid-19 vem evoluindo nas cidades da Região Metropolitana de Campinas, tendo chegado ao número de 2.903 no final do mês de maio deste ano.[1] Os dados relativos aos municípios de Vinhedo, Sumaré, Hortolândia, Campinas e Santa Bárbara d’Oeste expressam uma variabilidade percentual declinante dos casos de covid-19, no período da segunda à última semana. Por outro lado, a variabilidade semanal desse indicador foi mais alta em Indaiatuba, Valinhos e Paulínia, no intervalo entre a segunda e a terceira semana, sucedida de uma queda na última semana do mês. A exceção fica com a cidade de Itatiba, que manifestou uma trajetória crescente em todas as semanas. Em suma, a variabilidade semanal dos casos de covid-19 decresceu na última semana do mês de maio, na maioria das cidades da Região Metropolitana de Campinas que estão elencadas neste trabalho.

O Gráfico 2 evidencia o número dos casos de covid-19, por meio de um procedimento analítico que se baseia na proporcionalidade por 100 mil habitantes. Esse quesito esclarece que a cidade de Paulínia teve o número mais alto de casos, sendo acompanhada por Campinas, Valinhos e Vinhedo. O fator da proximidade geográfica talvez possa ser assumido como uma categoria explicativa desse resultado. Mais à frente, este trabalho se voltará à discussão deste ponto.

 Com um olhar mais atento à variabilidade semanal deste indicador dos casos de covid-19, observa-se, em primeiro lugar, Itatiba, que destoa das demais cidades, e, em segundo lugar, Paulínia, especialmente com relação à variabilidade que envolve o período que vai da segunda semana até o final do mês. Enfim, cabe observar que Santa Bárbara d’Oeste se conecta com o menor indicador deste painel.  

O indicador de número dos casos de covid-19 auxilia muito na compreensão da situação dinâmica deste problema social, de modo que o analítico tem que se preocupar com as relações entre esse indicador e as demais grandezas da vida social na Região Metropolitana de Campinas. Por exemplo, o analítico pode buscar a leitura das relações entre o número de casos, a estrutura de leitos de UTI existente em cada cidade e os óbitos derivados da covid-19. Nota-se que o número de casos se concentra em cidades que respeitam o fator da proximidade geográfica. À primeira vista, aparece como um indicador de pouco sentido, porém, a reflexão sobre o assunto pode levar à compreensão de que está prevalecendo um deslocamento de pacientes para as estruturas mais desenvolvidas do sistema de saúde, o que, por sua vez, tem sido útil para mitigar o número de óbitos. Sem dúvida, uma noção que merece ser apurada com mais profundidade.  

Nesse sentido, torna-se útil a construção de saberes científicos sobre os aspectos marcantes dessa população que faz parte do atributo “número de casos de covid-19”, especialmente a vista sobre os seus laços com a população economicamente ativa, se reside com a população de pessoas idosas, o que, sem dúvida, são estimadores relevantes para a compreensão desse problema social.

  1. Evolução do número de óbitos de covid-19

O primeiro gráfico desta nova série desvela o número total de 133 óbitos decorridos da pandemia de covid-19, no período que envolve o mês de maio deste ano. As cidades de Campinas e Indaiatuba estão com os indicadores mais altos de óbitos, chegando, em 31/05, a 75 e 20 mortes, respectivamente.  

O Gráfico 4 expõe o número de óbitos apurado por meio do procedimento que considera a proporcionalidade de 100 mil habitantes. Esse indicador inverte a situação anteriormente relatada e posiciona a cidade de Indaiatuba com o número mais alto de óbitos, sucedida por Campinas e Hortolândia. Neste último caso, cabe observar a alta variabilidade de óbitos no intervalo entre a primeira e a segunda semana do mês.

O Gráfico 5 apresenta a taxa de letalidade decorrente da pandemia de covid-19. As relações entre os óbitos e os casos são mais expressivas nas cidades de Indaiatuba e Hortolândia.  A primeira cidade fechou o mês com a taxa de letalidade de 15,38, sucedida pelo indicador de 7,89 de Hortolândia.

Reitera-se que o analítico foca as relações envoltas da caracterização e movimentação do número de casos de covid-19, a estrutura de leitos de UTI e a participação das pessoas idosas em domicílios permanentes, de modo que seria útil a construção de noções relevantes sobre os óbitos derivados da pandemia de covid-19.

  1. Taxa de isolamento social

O último gráfico deste trabalho expõe a taxa de isolamento social nas cidades da Região Metropolitana de Campinas que estão em pauta neste trabalho, por meio da qual se vê que essa política está perdendo a sua efetividade perante os grupos sociais e pessoas residentes nessa mencionada localidade. A queda mais acentuada se deu na cidade de Hortolândia, seguida de Paulínia, Vinhedo e Itatiba.

A variabilidade da taxa de isolamento social se manifesta em queda aproximada de 20%, no período do mês de maio deste ano, prevalecendo a percepção de que essa queda se relaciona com a elevação dos casos de covid-19, relatada na primeira parte deste trabalho, medida pela variabilidade semanal que, embora às vezes desacelere, é crescente de casos. Reitera-se que a caracterização assertiva da população que constitui o número de casos, em seus múltiplos aspectos, pode levar a novos olhares sobre as razões motivadoras do enfraquecimento do isolamento social. Certo é que prevalecem fatores sistêmicos, embora a construção de conhecimentos dotados de fatores específicos, à luz do que está constituído na vida social, sem dúvida, seja mais um nível de conhecimento benéfico e solutivo ao problema social.

Noções gerais

         A construção analítica deste trabalho possibilitou a leitura de que há  nexos entre a população que expressa o número de casos de covid-19 e os aspectos marcantes do desenvolvimento social das cidades da Região Metropolitana de Campinas, entre eles, especialmente, a proporcionalidade de pessoas idosas residentes em moradias permanentes, a taxa de ocupação dos leitos de UTI, a mobilidade da população economicamente ativa, neste caso, muito em função da proximidade geográfica, e o nível equiparado de desenvolvimento das atividades produtivas, além da mobilidade de pacientes para sistemas de saúde próximos de suas residências. Tudo isso faz muito sentido para a compreensão de como esse problema social complexo se manifesta na localidade regional.

À primeira vista, a população de pessoas idosas se distribui entre a maior parte dos domicílios permanentes nos municípios, muito em função do descompasso histórico que envolve o advento de novas moradias associadas as gerações dos jovens e o número crescente dos Idosos, sendo assim, fácil é perceber que isso tudo associado ao fator dinâmico da mobilidade da população economicamente ativa, em futuro próximo, poderá se expressar por meio de um agravamento dos casos de pessoas de alto risco perante a Covid-19.

O deslocamento diário das pessoas economicamente ativas entre as cidades de Campinas, Paulínia, Valinhos, Vinhedo, Indaiatuba e Hortolândia, bem como para outras regiões com alto nível de desenvolvimento econômico e interação social, como se prova com as muitas idas diárias para o município de São Paulo, à primeira vista, também pode ser um fator dinâmico de casos de covid-19.

Este fator dinâmico que envolve a mobilidade da população economicamente ativa, em suas múltiplas facetas, que se vincula a outros aspectos da vida social nas cidades da Região Metropolitana de Campinas, como a residência em domicílios junto com a população idosa, ao primeiro olhar, estabelece-se como um núcleo central do problema. Assim, merece ser investigado no sentido de esclarecer a sua natureza, bem como os seus nexos com as questões que são particulares do desenvolvimento social da Região Metropolitana de Campinas, tais como a proximidade geográfica entre cidades com alto nível de desenvolvimento econômico, entre outros fatores de relevo.

Diante desse contexto e considerando os efeitos que a medida de cientificidade analítica sobre a população envolta nos números de casos de covid-19 poderá colocar ao enfrentamento deste problema social complexo, à primeira vista, de imediato, julga-se ser possíveis ações do Setor Público, especialmente, da área da Saúde Pública, no sentido de maior controle das pessoas economicamente ativas que se deslocam diariamente para outras localidades. Em outras palavras, a fiscalização da entrada e saída de pessoas economicamente ativas nas cidades em pauta.

Felizmente, o número ascendente de casos não está resultando em óbitos na mesma proporção, porém, põe-se aqui a preocupação analítica de que esse processo está em sua fase inicial, de modo que isso se comprova pela relação entre o número de casos e a disponibilidade de leitos de UTI do SUS. Portanto, se as ações sociais e políticas públicas não forem tomadas de forma consciente, a dinâmica crescente de casos de covid-19 poderá se refletir no aumento da taxa de letalidade, de modo que urge um plano de soluções.

Enfim, o grande aprendizado deste analítico de dados é que não se pode alcançar facilmente as relações de causalidade deste complexo problema social, sobre o qual, cabe observar, construíram-se algumas noções relevantes, tendo em vista o apoio propositivo ao poder decisório das lideranças atuantes em favor da vida.

[1] O critério usado para a escolha das cidades acompanha as diretrizes da instituição que publica os dados. O Seade – Sistema Estadual de Análise de Dados publica os Boletins de Coronavírus sobre as cidades que possuem o número superior a setenta mil habitantes. Este trabalho leva em conta as cidades da Região Metropolitana de Campinas que estão nesse referido boletim.

Referências bibliográficas

AGEMCAMP. Observatório Metropolitano de Indicadores da RMC. Disponível em: http://www.agemcamp.sp.gov.br. Acesso em: 30/05/2020.

DATA VIVA. Oportunidades econômicas. Disponível em: http://www.dataviva.info. Acesso em: 30/05/2020.

JANNUZZI, Paulo Martinho. Indicadores Sociais no Brasil. São Paulo: Editora Alínea. 2009.

MOPS – Mapas estratégicos para políticas de cidadania. Disponível em: https://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/mops/. Acesso em: 31/05/2020.

SEADE. Boletim do Coronavírus. Disponível em: https://www.seade.gov.br/coronavirus/. Acesso em: 31/05/2020.  

SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DE SÃO PAULO. Indicadores da saúde. Disponível em: http://www.saude.sp.gov.br/ses/perfil/profissional-da-saude/informacoes-de-saude-/tabnet-ses-indicadores-de-saude.Acesso em: 31/05/2020.


Prof. Dr. Cristiano Monteiro da Silva

Pós Doutorado em Economia (2013,UNICAMP). Doutorado em Ciências Sociais (2010/PUC-SP), áreas de concentração: relações internacionais e ciência política. Mestrado em Economia (2002/PUC-SP). Graduação em Economia (2000/USF). Pós-graduação em Ciências de Dados. Pós-graduação em Marketing. Pós-graduação em Políticas Publicas. Inúmeros cursos de curta duração: linguagem R, gestão de vendas, marketing digital, finanças corporativas, gestão de custos, contabilidade básica e econometria aplicada, matemática, educação, gestão de negócios. Docente Extensionista da PUC/Campinas; Faculdades de Direito e Ciências Econômicas. (Fonte: Currículo Lattes).


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