COVID-19 na Região de Campinas

Informativo Covid-19 Campinas V1|N20|Semana 39(20/09 a 26/09)

Equipe:

Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4]

Até o dia 19/09, o Brasil notificou 4,71 milhões de casos e 141,4 mil mortes pela Covid-19, com uma taxa absoluta média de 27,1 mil novos casos e 696 novas mortes por dia.

Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 20/09 e encerrada em 26/09 – semana epidemiológica de número 39, no calendário das autoridades de Saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.

Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana)

A Tabela 1 apresenta as estatísticas semanais de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do Estado de São Paulo.  

Neste momento, o DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos. Também em relação ao número absoluto de casos e óbitos por semana, o DRS-Campinas ficou atrás, apenas, da Grande São Paulo.  Até 26/09, foram notificados 103,53 mil casos e 3,2 mil mortes, na região de Campinas – letalidade de 3,14%. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC[1]), foram 76,4mil casos e 2,4 mil óbitos, até o momento – letalidade de 3,17%. Por fim, o município de Campinas registrou 31,1mil casos até o momento, com 1.225 óbitos – letalidade de 3,94% — ver https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/ .

Em linhas gerais, 11 dos 17 Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas decrescentes de novos casos. É importante ressaltar que as autoridades de Saúde do Estado de São Paulo alegam que o aumento expressivo se deu pela testagem de casos mais leves da doença, recomendado desde 02/07 mas ainda em implementação por alguns municípios do Estado.

Em relação à semana anterior, quando o ritmo de avanço da pandemia estava em queda no DRS-Campinas, os casos e mortes mantiveram-se estáveis, como mostram a Tabela 1 e a Figura 1

A variação do DRS-Campinas em termos de novos casos foi de 4.073 mil casos (-0.14%); RMC, 2,9 mil casos (+4.61%), e Campinas, 838 casos (-16.45%). Em relação à semana anterior, as novas mortes decresceram no DRS-Campinas, 125 óbitos (-16.10%); na RMC, 110 (-8.33%), Campinas, 43 (-31.74%).

Como mostram as Figuras 2 e 3, os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes aumentaram consideravelmente em alguns municípios em relação aos níveis verificados nos últimos informativos divulgados pelo Observatório da PUC-Campinas (https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19-na-regiao-de-campinas-v1n08semana-27-28-06-a-04-07/).[6]

Neste momento,os municípios com menor incidência são Vargem e Monte Alegre do Sul, com 720 e 787 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. Na outra ponta, Paulínia, Jundiaí e Itupeva são os municípios com maior incidência, todos com mais de 2.800 casos por 100 mil habitantes. Em relação aos demais municípios paulistas, 11 dos 42 municípios do DRS-Campinas e nove dos 20 municípios da RMC estão entre os 25% de maior incidência – corte em 2254 casos por 100 mil habitantes.  

Até o momento, 3 dos 42 municípios do DRS-Campinas não declararam mortes pela Covid-19.  Por outro lado, Jundiaí e Campinas continuam entre os municípios com maior índice de mortes do DRS-Campinas, com 98 e 104 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente.

Na RMC, Campinas e Santa Bárbara d’Oeste são, neste momento, os municípios com os mais altos coeficientes de mortalidade – 104 e 85 respectivamente, sempre por 100 mil habitantes. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios com maiores taxas de mortalidade, no Estado de São Paulo, com corte em 61 mortes por 100 mil habitantes.

Análise dos especialistas

As últimas semanas foram marcadas pela reversão das iniciativas de flexibilização das medidas de isolamento social, baseadas no anúncio da “quarentena inteligente” do Estado de São Paulo.  De acordo com último relatório do Governo do Estado, publicado no dia 11/09, todos os Departamentos Regionais de Saúde se encontram na fase amarela. É importante ressaltar que as prefeituras podem estabelecer maiores restrições ao funcionamento das atividades econômicas do que as previstas pelo plano de flexibilização do Estado.

Na perspectiva da saúde, após a elevação dos registros de casos e óbitos na semana retrasada, houve redução nesses registros no município de Campinas nesta última semana. Ainda não é possível identificar, com clareza, como foi exatamente o comportamento da epidemia neste mês de setembro. O dado mais fidedigno para seguir com mais precisão “os passos” do vírus seria saber a data de infecção de cada indivíduo, uma vez que expressaria exatamente a intensidade de circulação em um momento específico. Como não é possível obter essa informação, pelo menos de forma sistemática e em larga escala, o melhor marcador é, sem dúvida, a data de início dos sintomas[1], pois é uma informação que pode ser obtida com certa facilidade e, como conhecemos o período de incubação médio da doença (5 a 6 dias), sabemos estar próximos da data de infecção. 

Entretanto, a tendência é que esse dado apareça sempre de forma “atrasada” nas curvas devido aos intervalos de tempo necessários para a informação circular e chegar até os gráficos. Os intervalos entre a data de início dos sintomas, data de procura ao Serviço de Saúde, data de notificação do caso, data de digitalização da ficha de notificação, tempo entre a coleta do espécime a ser analisado e chegada ao laboratório, processamento da amostra, liberação do resultado e, finalmente, atualização e encerramento da notificação, podem fazer com que exista um tempo considerável entre a data de início dos sintomas e o aparecimento da informação em um boletim. No Estado de São Paulo, a mediana de tempo entre a data de início dos sintomas e a digitalização da ficha de notificação é de 12 dias, e a mediana do intervalo de tempo entre a coleta da amostra para diagnóstico e a liberação do resultado, atualmente, é de 3 dias[2] (com bastante variação entre municípios e Serviços de Saúde).  Em relação aos óbitos, ainda deve-se considerar o tempo de internação antes do desfecho, que pode ser muito longo, mas é, em média, de duas semanas. Devido à alta qualidade do Serviço de Vigilância Epidemiológica que temos em Campinas, é possível que, no município, esses “tempos” sejam até menores. Dessa forma, há limitações nas curvas que apresentam os dados por data de início dos sintomas, pois as informações dos casos mais recentes ainda não chegaram às bases de dados, e há limitações quando se utiliza a data de registro do caso pois  este caso adquiriu o vírus duas, três ou mais semanas antes, de modo que esses dados não refletem a circulação do vírus no presente momento. Existem modelos matemáticos que levam em conta todos esses intervalos para tentar minimizar as limitações de tais dados[3].

Com base nesses modelos e na análise retrospectiva dos dados organizados por data de início dos sintomas, é possível afirmar com bastante segurança que o pior momento da epidemia no município de Campinas (pelo menos até esta data) foi no período compreendido entre as duas últimas semanas de junho e as duas primeiras semanas de julho, com redução consistente e progressiva dos casos a partir da semana epidemiológica 28 (05/07 a 11/07). Todavia, de acordo com as projeções realizadas até a data de 16/09, parece haver uma diminuição na velocidade de desaceleração da epidemia desde o início de setembro, tanto que o valor do Re (número de reprodução efetivo) também calculado até o dia 16/09 estava em torno de 1, indicando um cenário de estabilidade da epidemia.

Apesar disso, as taxas de ocupação e o número absoluto de pacientes com COVID-19 internados têm apresentado quedas bastante consistentes, indicando que, mesmo com a desativação de alguns leitos específicos para COVID-19, a rede hospitalar de Campinas está conseguindo absorver de forma efetiva a demanda atual.

Nesse contexto, o aumento de registro de casos e óbitos que ocorreu na semana epidemiológica 38 em relação à semana 37 pode ter sido uma variação habitual devido aos atrasos que ocorrem nas notificações e registros de casos, bem como pode ser um indício de que a velocidade de queda da ocorrência de novos casos estava menor do que nas semanas anteriores, algo que seria compatível com a diminuição da adesão da população às medidas de prevenção.

Sendo assim, seguimos observando, sabendo que certeza mais sólida no momento é a de que a pandemia não acabou e devemos continuar respeitando as recomendações para prevenir a infecção.

Do ponto de vista econômico e social, a pandemia continua afetando a atividade econômica e as oportunidades de geração de renda. O Departamento Regional de Saúde de Campinas está, há mais de um mês, na “fase amarela”. Neste momento, podem funcionar, com restrições, bares e restaurantes, salões de beleza, academias, escritórios, cursos livres, aulas práticas de autoescolas, além do relaxamento das restrições ligadas à fase anterior para o comércio e shoppings. Além disto, já é permitida pelo Plano São Paulo a realização de eventos, convenções e atividades culturais como cinema e teatro.

A sustentabilidade dos avanços na flexibilização, ao que tudo indicava, parecia estar baseada na eficiência dos protocolos na contenção da crise sanitária. Porém, o crescimento da média móvel de mortes na região preocupa a sustentabilidade das reaberturas. Além disso, a recuperação econômica, infelizmente, vai depender de outros fatores para além das permissões para funcionamento dessas atividades.

Em relação à atividade econômica nacional, os dados de julho revelam que houve aumento da atividade na comparação entre junho e julho/2020 – indústria (+8,0%), comércio (+5,2%) e serviços (+2,6%). No entanto, a comparação com os meses entre janeiro-julho do ano passado mostra que a economia ainda não se recuperou do impacto da crise do coronavírus – indústria (-9,6%), comércio varejista (+1,4%) e serviços (-8,9%). 

Por outro lado, o PIB do segundo trimestre caiu 9,7% na comparação com o primeiro trimestre, que já havia apresentado queda de 2,5%. Os dados do mercado de trabalho preocupam, já que contrastam com os resultados relativamente positivos na recuperação da atividade econômica nacional e podem indicar a debilidade da aposta em uma retomada que dependa do consumo das famílias. Na primeira semana de setembro, a taxa de desemprego ficou em 13,7%, um dos patamares mais altos desde o início da série da PNAD-Covid.  Além disso, as reduções de cargos e salários, bem como o desalento (quando as pessoas desistem de procurar emprego), camuflam a alta subutilização do trabalho na economia brasileira – 17,1 milhões de pessoas não procuram trabalho devido à pandemia ou à falta de trabalho em suas regiões, e 27,0% dos trabalhadores tiveram rendimento menor do que o normalmente recebido no mesmo período. Em agosto/2020, aproximadamente 34,8% dos domicílios paulistas receberam o Auxílio Emergencial, média de R$ 901,00 por domicílio.

O número de pessoas que não procuram emprego por conta da pandemia voltou a subir, o que naturalmente “diminuiu” o número de desempregados, isto é, pessoas que procuram, porém não encontram emprego. O número de pessoas que deixaram de procurar emprego, isto é, os desalentados, foi de 17,1 milhões de pessoas na primeira semana de setembro. O número de famílias recebendo o Auxílio Emergencial, no entanto, manteve-se praticamente estável — no Brasil são 43,9% dos domicílios recebendo o Auxílio. A retomada do consumo das famílias vai depender, criticamente, da manutenção do Auxílio Emergencial, agora reduzido para metade do benefício anterior, e do resultado do fim das reduções de cargos e salários e suspensão de contratos. Caso os contratos sejam convertidos na manutenção dos postos de trabalho, com recuperação dos rendimentos, a retomada pode ser mais rápida. No entanto, há a possibilidade de que as reduções e suspensões convertam-se em demissões, caso a economia continue patinando, como antes da crise sanitária. 

De forma pragmática, a sustentabilidade da retomada econômica vai depender da retomada da capacidade de consumo das famílias, da política de gastos públicos e da recuperação da economia internacional. Os dados do mercado de trabalho mostram que as reduções de salários, o desalento e o empobrecimento da população atingiram níveis bastantes altos, o que pode prejudicar a retomada do consumo nos próximos meses. Por outro lado, o governo insiste no diagnóstico de que os impactos econômicos serão de curto prazo e na manutenção do teto de gastos. O setor externo tem mostrado sinais de recuperação, sobretudo nos países que melhor controlaram a pandemia, com viés para importação de commodities agrícolas e minerais do Brasil. No entanto, é importante ressaltar que as exportações representam aproximadamente 14% do PIB brasileiro, isto é, parecem pouco suficientes para puxar taxas de crescimento significativas da produção nacional no curto prazo. Como complicador, há o aumento da preocupação com um possível movimento inflacionário, baseado em gargalos de oferta em alguns setores importantes de insumos, como aço, plástico, alimentos, entre outros. Com o dólar alto, dificuldade de ajuste rápido na oferta de alguns insumos e os primeiros passos da retomada da demanda internacional, os preços para os produtores internos têm subido, já causando alguns reflexos para o consumidor final. O IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), calculado pela FGV, atingiu 14,47% em 12 meses, até agosto 2020.  Esse índice captura aumentos nos custos de insumos que podem ser repassados para o consumidor final em algum momento (IPCA), sobretudo diante do reaquecimento da demanda interna ante a persistência do gargalo de oferta. Nesse contexto, a retomada da demanda interna, via consumo das famílias ou gasto do governo, deverá ser acompanhada de políticas de mitigação do aumento dos custos de insumo, como, por exemplo, a valorização do real em relação ao dólar e mecanismos de política comercial.

[1] Professor Extensionista e Economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br

[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/Hospital e Maternidade Celso Pierro

[3] Graduando em Geografia e Extensionista da PUC-Campinas (mapas)

[4] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)

[5] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.

[6] Houve alterações na amplitude das faixas de incidência para comportar o crescimento generalizado dos casos no interior de São Paulo.


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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