Equipe:
Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4]
Até o dia 01/08, o Brasil notificou 2,73 milhões de casos e 94,1 mil mortes pela Covid-19, com uma taxa absoluta média de 25,8 mil novos casos e 1,09 mil novas mortes por dia. Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 26/07 e encerrada em 01/08 – semana epidemiológica de número 31, no calendário das autoridades de Saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.
Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana)
A Tabela 1 apresenta as estatísticas semanais de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do estado de São Paulo.
Neste momento, o DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos. Também em relação ao número absoluto de casos e óbitos por semana, o DRS-Campinas ficou atrás, apenas, da Grande São Paulo. Até 01/08, foram notificados 54,2mil casos e 1,8 mil mortes, na região de Campinas – letalidade de 3,4%. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC[5]) foram 40,1 mil casos e 1,3 mil óbitos, até o momento – letalidade de 3,7%. Por fim, o município de Campinas registrou 18,0 mil casos até o momento, com 722 óbitos – letalidade de 3,9% — ver https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/ .
Tabela 1 – Casos e Óbitos nos Departamentos Regionais de Saúde do Estado de São Paulo
Em linhas gerais, 7 dos 17 Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas decrescentes de novos casos. Em relação à semana anterior, quando o ritmo de avanço da pandemia estava em alta no DRS-Campinas, os casos e mortes cresceram a ritmo menor, como mostram a Tabela 1 e a Figura 1. É importante ressaltar que as autoridades de Saúde do estado de São Paulo alegam que o aumento expressivo da semana anterior se deu pela testagem de casos mais leves da doença, recomendado desde 02/07 mas ainda em implementação por alguns municípios do estado.
A variação do DRS-Campinas em termos de novos casos foi de 9,3 mil casos (+9,11%); RMC, 7,5 mil casos (+12,46%); e Campinas, 2,3 mil casos (-15,5%). Em relação à semana anterior, as novas mortes diminuíram, contabilizando, no DRS-Campinas, 233 (-6,8%) óbitos; na RMC, 171 (-13%); e em Campinas, 88 (-8,3%).
Como mostram as Figuras 2 e 3, os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes aumentaram consideravelmente em alguns municípios em relação aos níveis verificados nos últimos informativos divulgados pelo Observatório da PUC-Campinas (https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19-na-regiao-de-campinas-v1n11semana-30-19-07-a-25-07/).[6]
Neste momento, os municípios com menor incidência são Pedreira e Serra Negra, com 247 e 262 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. Na outra ponta, Paulínia, Jundiaí e Itupeva são os municípios com maior incidência, todos com mais de 1.500 casos por 100 mil habitantes. Em relação aos demais municípios paulistas, 12 dos 42 municípios do DRS-Campinas e 9 dos 20 municípios da RMC estão entre os 25% de maior incidência – corte em 1.021 casos por 100 mil habitantes.
Até o momento, 7 dos 42 municípios do DRS-Campinas e um[1] dos 20 municípios da RMC não declararam mortes pela Covid-19. Por outro lado, Jundiaí e Cabreúva continuam entre os municípios com maior índice de mortes do DRS-Campinas, com 74 e 68 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente.
Na RMC, Campinas e Nova Odessa são, neste momento, os municípios com os mais altos coeficientes de mortalidade – 61 e 48 respectivamente, sempre por 100 mil habitantes. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios com maiores taxas de mortalidade, no estado de São Paulo, com corte em 35 mortes por 100 mil habitantes.
Análise dos especialistas
As últimas semanas foram marcadas pela reversão das iniciativas de flexibilização das medidas de isolamento social, baseadas no anúncio da “quarentena inteligente” do estado de São Paulo. No entanto, nesta semana que se inicia, a reclassificação do DRS de Campinas para a fase “laranja” permitiu que os municípios da região reabrissem o comércio e demais atividades previstas.
De acordo com último relatório do Governo do estado, publicado no dia 31/07, as regiões de Franca, Ribeirão Preto, Registro e Piracicaba estão na fase vermelha. A Baixada Santista, a Grande São Paulo e Araraquara estão na fase amarela. Os demais departamentos estão na fase laranja. É importante ressaltar que as prefeituras podem estabelecer maiores restrições ao funcionamento das atividades econômicas do que as previstas pelo plano de flexibilização do estado.
Da perspectiva da saúde, nesta última semana houve aumento no registro de casos tanto na RMC quanto no DRS-Campinas. Mas no município de Campinas, entretanto, os registros foram inferiores aos da semana passada. As variáveis trazidas para a análise nas últimas semanas trouxeram também dificuldades adicionais para dissecar esses números, sobretudo pelo represamento de notificações/confirmações de casos, ampliação de testagem de síndromes gripais e a nova reabertura do comércio em 27/07/2020.
As curvas de óbitos tanto no município de Campinas quanto na RMC e DRS tendem à estabilização, mas vale ressaltar o atraso deste dado em relação ao momento atual, refletindo a ocorrência de casos há mais de 2 semanas. Observando a curva de registros de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por data de início dos sintomas divulgada no Boletim Epidemiológico da Prefeitura de Campinas do dia 31/07/2020, a impressão de estabilização fica mais clara, juntamente com os dados sobre ocupação de leitos intensivos destinados a pacientes com COVID-19, fornecidos diariamente pela Prefeitura de Campinas. O número absoluto de pacientes internados é elevado, mas vem se mantendo estável desde a metade do mês de julho, com uma tendência de queda na última semana.
Com a estratégia de não adotar medidas restritivas mais robustas, a região, o estado e o país vão desenhando a curva epidêmica com um preocupante “platô” em patamares muito elevados. Sem essas estratégias que determinem efetivamente quebras de cadeias de transmissão, a mitigação da epidemia tem permitido a estruturação e adequação das capacidades de atendimento pelo menos em número (não sabemos ainda em relação à qualidade de assistência) para evitar o colapso do sistema. Porém, com o retorno gradual das atividades, seguimos muito dependentes da adesão da população às recomendações para evitar a transmissão, uma população já cansada das medidas restritivas e com necessidade de retomar às atividades laborais para sobrevivência, ou seja, com uma tendência de justamente ir diminuindo a adesão a tais recomendações. Com quase 6 meses de epidemia no Brasil e todas as incertezas sobre o comportamento do sistema imunológico frente ao vírus, sobretudo quanto à “duração da imunidade” devemos nos manter sempre alertas pois o cenário futuro ainda não está desenhado e traz grandes preocupações.
Do ponto de vista econômico e social, esta é a segunda semana da reabertura do comércio e demais atividades permitidas na fase laranja, nos municípios da região de Campinas. Os dados da atividade econômica realmente preocupam, ainda que tenham mostrado alta na produção industrial e do comércio de acordo com os últimos dados do IBGE[8]. Porém, a falta de articulação entre as prefeituras que compõem os polos econômicos regionais, e outras questões que tornam os níveis de isolamento social abaixo do esperado, podem jogar os comerciantes em uma rotina de aberturas e fechamentos que dificultam muito o planejamento e a gestão.
É importante ressaltar que essa abertura vem em momento distinto do verificado na última tentativa de abertura do comércio, apesar de incertezas em relação às razões do aumento dos casos e ainda à alta taxa de ocupação dos leitos hospitalares. Reforçamos que o otimismo em relação aos últimos dados da indústria e do comércio é, inicialmente, precoce. Os últimos dados da PNAD Covid-19 mostram que a taxa de desocupação vem crescendo e atingiu 13,6% na primeira semana de julho, em São Paulo. Agora são 33,4% dos domicílios recebendo o auxílio emergencial no estado. A relativa baixa taxa de desocupação é resultado, sobretudo, do desalento e da redução de carga horária e salários que disfarçam a desocupação.
Nesse sentido, preocupa muito a capacidade de a economia recuperar-se rapidamente, sobretudo pela redução da renda e do emprego, num contexto de aversão as políticas de gasto do governo. A possível lentidão na recuperação da renda e da confiança deverá atrasar a retomada econômica, impactando todos os setores de atividade, mesmo após o surgimento de uma vacina ou algum tratamento mais eficaz contra a doença. No entanto, os afastamentos ou redução de carga e salários poderão acelerar em algum grau a recuperação, a depender da força do efeito da queda nos rendimentos.
ANEXO – 1 Covid-19 nos DRS-São Paulo.
ANEXO – 2 Curva de novos casos e mortes nos DRS-São Paulo – Interior
[1] Professor extensionista e economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br
[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/ Hospital e Maternidade Celso Pierro
[3] Graduando em Geografia e extensionista da PUC-Campinas (mapas)
[4] Graduando em Economia e extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)
[5] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.
[6] Houve alterações na amplitude das faixas de incidência para comportar o crescimento generalizado dos casos no interior de São Paulo.
[7] Apenas Holambra, após o registro da primeira morte em Santo Antônio de Posse.
[8] Em relação aos indicadores da atividade econômica, a produção industrial brasileira teve aumento de 7% na comparação entre maio/2020 e abril/2020, de acordo com os dados do IBGE, após tombo de 18,8% em abril. Em relação a maio/2019, a queda foi de 21,9% em maio/2020. O comércio cresceu 13,9% na comparação entre abril e maio/2020, porém registrou queda de 7,2% em relação ao maio/2019.