Equipe:
Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4]
Informativo Covid-19 RMC – V1|N03| Semana 22 (24/05 a 30/05)
Nesta nota, apresentam-se as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes para os municípios da Região Metropolitana de Campinas (RMC), bem como o comportamento da curva epidemiológica para a semana iniciada em 24/05 e encerrada em 30/05 – semana epidemiológica de número 22, para o Ministério da Saúde.
O acompanhamento dos números da pandemia por parte da população e das autoridades de saúde se tornou ainda mais importante diante da possível flexibilização das medidas de isolamento social, baseadas no anúncio da “quarentena inteligente” do estado de São Paulo, que trata de forma heterogênea a necessidade de isolamento social mais rígido nos diferentes departamentos de saúde regionais. O Departamento Regional de Saúde de Campinas, formado por 41 municípios, foi classificado, inicialmente, na fase 2. Portanto, os prefeitos desses municípios podem autorizar, por meio de decretos, o funcionamento com restrições das imobiliárias, concessionárias, escritórios, comércio e shopping centers.
Em números absolutos, até o final da semana epidemiológica de referência, a RMC contabilizou 3.115 casos e 138 óbitos causados pela covid-19. O estado de São Paulo notificou 107.142 casos e 7.532 mortes, no mesmo período. Enquanto o Brasil, que é o segundo no ranking mundial da covid-19, atingiu a marca dos 512.583 casos e 29.283 óbitos. Desde 25/04, a pandemia tem avançado de forma rápida e contínua na RMC, como mostra a o Gráfico 1, preocupando a população e as autoridades de saúde estaduais e municipais.
Houve o aumento de 823 casos (28,79%), em relação à semana epidemiológica anterior encerrada em 23/05. Na mesma semana, ocorreram 38 novas mortes, registrando um aumento de 39,47% em relação à semana anterior. O município de Campinas, que teve aumento de 427 casos na semana de referência, continua entre os 7 municípios com maior taxa de aumento de casos absolutos no estado de São Paulo.
Como mostram a Tabela 1 e as Figuras 2 e 3, as incidências de casos e mortes por 100 mil habitantes também aumentaram consideravelmente em relação aos níveis verificados no primeiro informativo divulgado pelo Observatório da PUC-Campinas, que pode ser acessado no link https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19-na-regiao-metropolitana-de-campinas/ .
Neste momento, o município com menor incidência de casos é Pedreira, estando na faixa dos 15 a 20 casos por 100 mil habitantes. Na outra ponta, Paulínia, Campinas e Morungaba são os municípios com maior número relativo de casos notificados, todos com mais de 120 casos por 100 mil habitantes. Em comparação com os demais municípios brasileiros, 12 dos 20 municípios da RMC fazem parte dos 50% com maior incidência por 100 mil habitantes – corte em 65 casos por 100 mil habitantes. Em relação aos demais municípios paulistas, 5 dos 20 municípios da RMC estão entre os 25% de maior incidência por 100 mil habitantes – corte em 105 casos por 100 mil habitantes. Na RMC como um todo, a média atual é de 78,71 contra 84,71 no estado de São Paulo e 162,34 casos por 100 mil habitantes no Brasil.
A partir dos mapas, verifica-se a manutenção da não linearidade entre o número de casos e mortes por 100 mil habitantes, como também ocorre no território nacional. Nota-se que 6 dos 20 municípios da RMC ainda não declararam mortes pela covid-19, enquanto Indaiatuba, Campinas e Hortolândia, são, neste momento, os municípios da região com maiores taxas de óbito por 100 mil habitantes. Indaiatuba está no grupo dos 25% dos municípios brasileiros e paulistas com maiores taxas de morte a cada 100 mil habitantes. No entanto, apenas 3 dos 20 municípios da RMC figuram entre os 50% de maiores taxas de morte por 100 mil habitantes no estado de São Paulo.
A partir da perspectiva da saúde, diante do cenário de elevação do número de casos e sem indícios, até o momento, de qualquer sinalização de mudança significativa da curva de contágio, os movimentos no sentido de flexibilização das medidas de distanciamento social são extremamente preocupantes. Com as taxas de ocupação de leitos de unidades de terapia intensiva aumentando e chegando a níveis até acima de 90% em hospitais da rede municipal de Campinas, um processo de reabertura neste momento poderia levar a um aumento mais expressivo do número de casos entre uma e duas semanas, com risco de haver demanda por leitos acima da capacidade instalada. Os esforços para aumentar o número de leitos vêm sendo realizados por diversos municípios da Região Metropolitana de Campinas, tanto através da criação de novos leitos como pela contratação de leitos da rede privada. Não é possível prever, entretanto, se serão suficientes ante os impactos de uma reabertura. Mesmo com a presença de alguns hospitais estaduais na região permitindo uma estratégia de referenciamento, provendo leitos de UTI às cidades sem leitos intensivos ou com esses leitos ocupados, o limite do sistema público pode ser atingido rapidamente diante de um aumento rápido de número de casos. Pensar a gravidade da pandemia e a necessidade de medidas mais rígidas de isolamento social de forma heterogênea no território, balanceando os impactos na saúde e na atividade econômica pode ser uma boa estratégia. No entanto, é necessário considerar as interconexões econômicas, sociais e do sistema de saúde. Mais especificamente, é importante considerar que há grande circulação de pessoas entre os diferentes municípios da região, impulsionada sobretudo pela dinâmica das relações de produção e consumo. Decisões tomadas no âmbito municipal terão grandes impactos na contenção ou avanço da pandemia nos demais municípios da RMC, podendo sobrecarregar o sistema de saúde que também funciona de forma integrada.
[1] Professor extensionista e economista do Observatório PUC-Campinas
[2] Professor e médico Infectologista da PUC-Campinas/ Hospital e Maternidade Celso Pierro
[3] Graduando em Geografia e extensionista da PUC-Campinas (mapas)
[4] Graduando em Economia e extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)