ELABORAÇÃO TÉCNICA:
PROFESSOR EXTENSIONISTA (PUC-Campinas):
Prof. Dr. Cristiano Monteiro da Silva
ALUNOS ORIENTADOS:
Gabriela Martos de Oliveira
Laura di Lacio Aboud
Maurício Ruzene
Pedro Daniel Montanhaur
Introdução
Este trabalho discute alguns aspectos do posicionamento de jovens na vida social da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Sabe-se que existem muitos estudos que versam sobre essa temática, de modo geral, e a respeito das localidades regionais, inclusive as instituições de pesquisas que se dedicam à mostra de indicadores sociais, por exemplo, o IDH (Índice do Desenvolvimento Humano) e o IVS (Índice de Vulnerabilidade Social). Todavia, as notas contidas neste texto justificam-se pelo anseio de se pôr à vista o analítico sobre os recentes acontecimentos que marcam a inserção de jovens em sistemas locais de trabalho e renda, mais o que diz respeito à dimensão do capital humano. Tudo isso para se chegar a uma comprovação de que tal grupo caminha a passos largos para uma situação de vulnerabilidade social. Ademais, agora na forma propositiva, o feito deste trabalho também é contribuir com ideias para um plano de políticas públicas e ações sociais.
O objetivo central é discutir os novos traços da complementaridade que envolve os sistemas produtivos e a vulnerabilidade social que é particular da população de jovens residente na Região Metropolitana de Campinas. A principal questão está na evolução dos sistemas produtivos da Indústria e dos Serviços e suas inferências sobre a vida social das novas gerações.
Os procedimentos metodológicos que culminam na construção de indicadores e relatórios técnicos da vulnerabilidade social, pertinentes para qualquer localidade do país, incorporam olhares sobre as seguintes dimensões: infraestrutura urbana; capital humano; renda e trabalho, sendo que cada uma dessas dimensões reúnem um conjunto de variáveis. Neste trabalho, por conta de detalhes ligados à ciência de dados, neste momento, o conceitual da vulnerabilidade social dos jovens é desenvolvido a partir de uma análise exploratória e descritiva de dados da dimensão do capital humano, em específico a relação entre a estrutura social dos jovens e o sistema educacional, mais a vista da dimensão do trabalho e renda, por meio da construção de um analítico dos empregos e renda que derivam das estruturas produtivas, especialmente da Indústria e dos Serviços. Enfim, o exploratório dos dados não se limita à descrição simples, mas vai além com a elucidação de poucas e boas inferências estatísticas para suportar a análise das relações entre as grandezas em pauta. Finalmente, ainda no campo de procedimentos metodológicos, convém notar que a análise da estrutura social da Região Metropolitana de Campinas pode ser assumida como um composto de vários grupos de pessoas. Este trabalho posiciona-se em torno das questões do grupo social dos jovens, visto como as pessoas que estão na faixa etária entre 15 e 24 anos.
A estrutura do texto contempla três etapas. Inicialmente, a caracterização do público. Logo depois, a discussão sobre a dimensão da renda e acesso ao trabalho que põe à vista as conexões entre as alterações na estrutura produtiva da Indústria, desde os últimos anos, e a condição da demanda de emprego e renda por parte dos jovens. Finalmente, a dimensão do capital humano vista por meio da inserção deste público no sistema educacional. As ideias conclusivas finalizam este estudo.
- Caracterização dos jovens
A Região Metropolitana de Campinas, daqui para frente descrita apenas como RMC, possui uma população total estimada em 3.123.180 pessoas. O primeiro gráfico revela que a população de jovens, nesta região, no início da série, em 2010, era estimada em 476.179; depois de alguns anos, em 2017, perfaz o total de 461.270 pessoas. Vê-se facilmente que os dois últimos anos (2016 e 2017) manifestam um número de jovens abaixo da média de 471.824. Ademais, com o olhar sobre as questões específicas, a população masculina supera o número relacionado às mulheres, em 2010, em que a população estava em torno de 241.580 homens em comparação a 234.599 mulheres. Ao final da série, em 2017, no mesmo sentido, o número era de 234.558 homens para 226.712 mulheres.
O gráfico 2 dá conta do percentual que ilustra a participação
de jovens na população total, em cada cidade da RMC, levando em comparação os
anos de 2000 e 2017.[1] O
resultado médio da RMC foi de 14,93%, em 2017, sendo que nesse ano muitos
municípios ficaram com um percentual acima desta média, à exceção de Campinas,
Vinhedo, Valinhos, Pedreira e Americana. Ademais, se o olhar agora se voltar
para o período entre 2010 e 2017, ou seja, não apenas de um ano, como foi feito
acima, mas de todo o período, diz-se que ocorreu uma queda do percentual de jovens
em relação à população total, em todas as cidades, estando ciente de que, em
algumas cidades, a variabilidade negativa foi mais alta, por exemplo, em
Americana, Campinas, Pedreira, Jaguariúna, Vinhedo e Sumaré.
Na sequência, o gráfico 3 continua com a abordagem da população de jovens em cidades da RMC, mas, desta vez, para mostrar a comparação entre homens e mulheres, somente no ano de 2017. Vê-se que a população de jovens homens é maior em todas as cidades da RMC, com destaque para o número de Campinas, seguida de Hortolândia, Sumaré, Americana e Indaiatuba.
Tudo que foi exposto precisa ser acurado com a discussão sobre o posicionamento social desta população de jovens. Neste trabalho, convém salientar tal propósito pela observância de como este grupo social está entrando no mercado de trabalho, além da sua inserção no sistema educacional básico e superior.
1. A dimensão da renda e acesso ao trabalho
Sabe-se que, desde as décadas da segunda metade do século XX, momento no qual a industrialização intensiva em capital e tecnologia manifestava as suas primeiras atividades produtivas no país, a RMC sempre teve uma macroeconomia muito influenciada pelo excedente financeiro da referida Indústria. Em outras palavras, o processo da criação de empregos e renda, e tudo que deriva dele, como, por exemplo, a arrecadação financeira do setor público, a massa salarial e a dinâmica do consumo privado das famílias e empresas, enfim, muitos desses aspectos tinham forte correlação com as decisões da indústria. À primeira vista, tal realidade oferece novos elementos. O ponto que merece maior atenção é que a Indústria, desde os últimos anos, vem perdendo a representatividade na macroeconomia do emprego e renda alinhada às necessidades dos jovens.
O gráfico 4 dá a informação master deste trabalho, por meio da qual se diz que o número de jovens empregados na Indústria, desde os últimos anos, caiu bastante. Assim, em 2010, havia o equivalente a 53.427 empregos neste setor, enquanto no final da série, em 2018, o número caiu para 35.172. De outra forma, pode-se dizer que os empregos na Indústria, em 2010, equivaliam a 31,1% do total de empregos de jovens, sendo que tempos depois, em 2017, este tipo de percentual caiu para 23,2%. Por outro lado, o setor de Serviços aumentou de 38,2% para 43,5%, no mesmo período. Sem dúvida, os dados revelam a diminuição do acesso da população de jovens às atividades produtivas da Indústria instaladas na RMC.[2]
Os dois seguintes gráficos dão destaque para a queda na faixa de renda, medida por salários mínimos, dos empregos de jovens, especialmente na Indústria. A informação pode ser apreendida por meio de um simples olhar, mas vale pôr em discussão a informação que a faixa entre 3 e 4 salários-mínimos, em 2002, no setor industrial, equivalia em torno de 18,2% dos empregos do setor, a de 4 a 5 salários mínimos, próxima de 10%, e viam-se até mesmo os empregos na faixa de 5 a 7 salários-mínimos. Muito tempo depois, em 2017, as mesmas faixas de salários-mínimos ficaram, respectivamente, em torno de 8,8% e 2,9%, e a faixa entre 5 a 7 salários-mínimos praticamente perdeu a sua representatividade na série, dando lugar aos empregos da faixa entre 1,5 e 2 salários-mínimos. Portanto, os empregos de jovens na Indústria instalada na RMC estão remunerando menos do que no passado, em termos nominais, levando-se em conta apenas a referência do salário-mínimo.
Diga-se de passagem, no que toca à estrutura etária dos empregados atuantes na Indústria, de lá para cá, também se vê que os sistemas produtivos estão compostos por pessoas de mais idade. Assim, em 2002, a faixa etária entre 18 e 24 anos correspondia a 22,8% dos empregos totais, seguida de 19,3% da faixa etária entre 25 e 29 anos e 32,1% da faixa etária entre 30 e 39 anos. Tempos depois, em 2017, a primeira faixa, com o percentual representativo de 11,1%; na sequência, 15,2% e 35,2%, respectivamente, para as duas outras faixas; e o crescimento do percentual da faixa etária de 40 a 49 anos. Portanto, essa breve comparação mostra que a população trabalhadora da Indústria, na RMC, está com mais idade do que se via em anos anteriores, o que significa, em termos conclusivos, a menor participação dos jovens (RAIS, 2019).
A temática fica mais bem apreendida quando se compara o número de jovens de 20 a 24 anos residentes na RMC, ou seja, o público que visa ao ingresso no mercado de trabalho, com o indicador de empregos formais de jovens até 24 anos. Assim, em 2010, havia a população de 254.204 pessoas jovens e o número de 194.761 empregos formais de pessoas até 24 anos. Logo depois, em 2017, o primeiro número caiu para 245.560, mas também houve queda no número de empregos formais para 148.526, ampliando-se a distância entre ambos.
2. A inserção dos jovens no sistema educacional
O desenvolvimento social da população de jovens depende muito de suas relações com o sistema educacional. Apenas para realçar este ponto de vista, será por meio de planos de educação coerentes e qualificados que os jovens poderão assumir uma postura reflexiva e crítica capaz de ser transformadora da realidade. Portanto, os acontecimentos progressivos dependem de tal relação combinatória entre os jovens e a Educação de qualidade, que é uma categoria fundante da evolução social.
O gráfico 8, primeiro desta nova série, coloca em evidência a comparação entre a estrutura social de jovens de 15 a 19 anos e o número de matriculados do Ensino Médio, de tal modo que esta é a faixa etária mais comum neste nível de ensino, considerando que há distorções de idade e série, que serão, inclusive, abordadas mais adiante. Assim, ao se compararem as duas grandezas fica evidenciado que a população de jovens é superior ao número de matriculados. À primeira vista, a RMC convive com a situação de jovens desta faixa etária fora do sistema educacional.
O mesmo procedimento é aplicado neste trabalho para se ter a ideia da relação entre a população de jovens de 20 a 24 anos, ou seja, o público em idade escolar demandante das matrículas do Ensino Superior versus o número de matriculados deste nível de ensino. O resultado também faz abrir os olhos para a questão de que muitos jovens estão fora do sistema educacional do ensino superior.
Esta base de dados possibilita a construção de um número índice das grandezas em pauta. Na RMC, no período de 2010 a 2017, a comparação entre o número médio de 223.221 pessoas jovens de 15 a 19 anos com o número médio de 120.536 matriculados resulta em 1,85, ou seja, em torno de 2 pessoas para cada matrícula efetivada no Ensino Médio. No caso do Ensino Superior, no período de 2010 a 2016, a resultante é 2,09.
Esta linha de raciocínio também serve para analisar a situação dos municípios da RMC. O seguinte gráfico mostra que a maior parte das cidades preserva a referida relação entre jovens e matriculados nos níveis de ensino em pauta. Convém destacar que, no caso dos cursos de graduação presenciais, muitas cidades convivem com um número maior de jovens sem acesso à matrícula neste nível de ensino, fato este posto no gráfico 10[3].
Na sequência, põe-se para refletir alguns indicadores de aspectos qualitativos da relação entre a estrutura social dos jovens e o sistema educacional instalado na RMC. A primeira tabela insere a discussão sobre a distorção idade-série em municípios da sobredita localidade. O indicador evidencia o percentual da população em pauta que está em idade superior à idade comum para a série do ensino, neste caso, o ensino médio, com faixa etária de 15 a 17 anos. A média da RMC é de um percentual de 13,93% da população de jovens, contendo a idade acima do que é comum para a série do Ensino Médio.
A próxima tabela explora o indicador de taxa de abandono do Ensino Médio. Este indicador dá conta do percentual da população matriculada neste nível de ensino que cancela e se retira do sistema de ensino, sem se ater às causas. Como se vê, o percentual varia bastante, de cidade para cidade, porém, em alguns lugares o percentual é maior do que a média da RMC.
Esta série de dados é encerrada com a abordagem sobre a taxa de reprodução do ensino médio, nas cidades da RMC. Neste caso, o cuidado é com o percentual da população de jovens estudantes que não atingem o resultado mínimo para aprovação escolar. Convém notar que os percentuais estão elevados para quase todos os lugares.
Todos os indicadores elencados sobre o posicionamento da população de jovens no sistema educacional podem ser complementados com a leitura do IDEB – Índice de Desempenho da Educação Básica, em particular, este indicador relativo ao ensino médio, no que toca o ano de 2017. De acordo com o INEP (2018), os resultados estão fora da meta estabelecida pelos órgãos competentes.
Considerações finais
Sabe-se que são tempos em que o tamanho do Estado condiz com a hegemonia do poder econômico, ainda mais quando o assunto diz respeito ao sistema de proteção social. Porém, o que se apreendeu neste trabalho é que o olhar tem que ser mais amplo, pois o que está em jogo é a vida social dos jovens, que são, convém reiterar, os donos do futuro, por excelência. Desse modo, a questão contida neste trabalho se apresenta como estratégica para o decisório de políticas públicas e ação social.
O ponto de relevo é que se precisa levar em conta a complementariedade entre os sistemas produtivos locais, em especial, a Indústria, isso porque, historicamente, foi o setor capaz de assegurar excedentes econômicos e financeiros para se fazer ir para a frente à vida social, porém, agora vive a situação especial de perda da capacidade endógena em favor das novas gerações. Do que se trata? Seria o caso de uma condição estrutural nova, muito contraditória, ou de apenas uma situação particular, produto de crise pontual? Quais serão os impactos? Enfim, a questão que fica deste trabalho leva a crer que esta situação social precisa ser explorada e melhor apreendida.
Cabe, ainda, notar que os resultados que ligam a população de jovens ao sistema educacional e ao acesso à renda e ao trabalho, na RMC, estão longe de ser satisfatórios, de modo que algo deve ser feito, em curto prazo. Em pontos específicos, a Indústria está mostrando uma retração no que toca ao acesso dos jovens ao emprego e à renda. O sistema educacional não está atraindo as matrículas deste público; os processos de aprendizagem, vistos por meio dos indicadores de qualidade, mostram muitas fragilidades.
Enfim, sem perder de vista a forma propositiva, cumpre dizer que se deve aprofundar este diagnóstico, no sentido de pôr na sociabilidade da RMC o desafio estratégico do desenvolvimento social e a formulação de políticas públicas.
- Referências
AGEMCAMP. Observatório Metropolitano de indicadores da RMC. Disponível em: http://www.agemcamp.sp.gov.br. Acesso em: 10/11/2018.
DATA VIVA. Oportunidades econômicas. Disponível em: http://www.dataviva.info. Acesso em: 05/02/2019.
IBGE. Disponível em: http://www.ibge.gov.br. Acesso em: 25/02/2019.
INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA. Sinopse Estatística da Educação Básica 2017. Brasília: Inep, 2018. Disponível em: http://portal.inep.gov.br. Acesso em: 10/11/2018.
JANNUZZI, Paulo Martinho. Indicadores Sociais no Brasil. São Paulo: Editora Alínea. 2009.
MOPS – Mapas estratégicos para políticas de cidadania. Disponível em: https://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/mops/. Acesso em: 10/04//2019.
SEADE. Pesquisa de investimentos anunciados no Estado de São Paulo. Disponível em: http://www.piesp.seade.gov.br/. Acesso em: 25/03/2019.
[1] Sabe-se que o analítico sobre a dinâmica da participação da população de Jovens na sociedade local depende de estudos mais apurados sobre a natalidade, o número de crianças, entre outros fatores. O intuito aqui é tão somente mostrar a representatividade deste grupo para a discussão a respeito da vulnerabilidade social.
[2] O diagnóstico sobre as causalidades da queda dos empregos de jovens nas atividades da Indústria não está formulado neste trabalho. Grosso modo, julga-se que a questão guarda relações com fatores estruturais e situacionais da realidade brasileira. No primeiro caso, a recente divisão internacional do trabalho, por meio da qual a Indústria intensiva se internacionalizou para países da Ásia, em particular, a China. O fator conjuntural deve-se à crise que vive o país. Enfim, o ponto que cabe destacar é a distância entre a população de jovens e o processo da geração de valor das atividades da Indústria.
[3] Óbvio que esta relação tem que ser mais bem construída para se ter a aproximação da certeza de que existem pessoas jovens fora dos sistemas educacionais em pauta. De cara, pode-se dizer que muitos jovens podem estar em sistemas educacionais de outras localidades do país. Todavia, essa construção metodológica serve porque levantam percepções e dúvidas sobre a ausência da plenitude do alcance social dos jovens, o que, por si só, alude para questões maiores da vida social e das políticas públicas.